Por Enio Fonseca e Decio Michellis Jr.
Extremos Climáticos: O que é mais mortal? (Calor infernal ou frio de rachar?)
“Nada queima como o frio”. (George R. R. Martin)
“Viver – não é? – é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver mesmo.” (Guimarães Rosa).
O Homo Sapiens (nós humanos) é a única espécie viva presente em todos os continentes e em todos os tipos de clima. A capacidade de adaptação e a utilização de tecnologia permitem que os humanos ocupem desde os desertos quentes até as regiões polares. A habilidade de adaptação a diferentes ambientes: variações extremas de temperatura, umidade e altitude foi possível com a evolução tecnológica para a adequação em diferentes condições e estilo de vida na:
- Construção de moradias;
- Desenvolvimento de ferramentas, máquinas e equipamentos;
- Sistemas de armazenamento de água;
- Criação de estratégias de sobrevivência em diferentes climas para alimentação;
- Vestimenta com roupas adequadas ao clima local;
- Sistemas de aquecimento e resfriamento;
- Técnicas de agricultura e pecuária entre outras inovações e adaptações.
Biologicamente também envolveu alterações morfológicas, de desenvolvimento, fisiológicas (como a produção de melanina para proteção contra o sol em regiões equatoriais ou o desenvolvimento de maior capacidade respiratória em altitudes elevadas) e comportamentais, bem como uma crescente aprendizagem social e cultural. Esta notável complexidade e sofisticação, reflete a interação dinâmica de diversos fatores e níveis de organização, desde a estrutura cerebral e a cognição até as relações sociais, a cultura e as instituições sociais.
O aumento da complexidade está diretamente relacionado a mudanças radicais e crescentes na estrutura e na dinâmica da civilização humana bem como na especialização e na diversidade dos ambientes profissionais e sociais. A civilização humana é um organismo capaz de ações coletivas notavelmente complexas em resposta aos desafios ambientais, entre eles a adaptação climática as mais diversas variações extremas de temperatura, umidade e altitude.
Temperaturas Extremas
Entre os lugares mais quentes do planeta se destacam:
- Deserto de Lut, Irã com relatos de temperaturas de até 70,7 °C em 2005.
- Queensland, Austrália, temperaturas de até 68,9 °C.
- Vale da Morte (Death Valley), na Califórnia, Estados Unidos, que já registrou a temperatura de 57,8 °C. Apesar do calor extremo, o Vale da Morte possui uma variedade de vida selvagem e paisagens únicas.
- Ghadames, Líbia, a temperatura pode chegar a 55 °C.
- Kebili, Tunísia, a cidade já registrou 55 ºC.
- Timbuktu, Mali, já registrou a temperatura de 54,4 °C.
- Tirat Tsvi, Israel, temperaturas acima de 53,9 °C.
- Wadi Halfa, Sudão na fronteira com o Egito já atingiu 52,8 °C.
- Cidade do Kuwait, Kuwait com temperaturas acima de 50 °C.
- Turfan, China, temperaturas acima de 50 °C.
O Brasil possui um clima tropical predominante, o que favorece temperaturas elevadas em grande parte do território. A ausência de grandes corpos d’água nas proximidades e as regiões de planície com vegetação escassa também desempenham um papel significativo. As cidades localizadas em regiões com clima semiárido ou próximo a áreas de grande amplitude térmica, como o Pantanal, tendem a registrar temperaturas mais altas:
- Água Clara (Mato Grosso do Sul): Clima é caracterizado como “Tropical Brando de Transição”. 44,6 °C em 5 de outubro de 2020.
- Paranaíba (Mato Grosso do Sul): Clima tropical. 44,6 °C em 7 de outubro de 2020.
- Cuiabá (Mato Grosso): O clima é tropical e úmido. 44,2 °C em 19 de outubro de 2023.
- Petrolina (Pernambuco): O clima petrolinense é classificado como semiárido quente. 44,1 °C em 3 de janeiro de 1963.
- Corumbá (Mato Grosso do Sul): Corumbá possui clima tropical. 43,9 °C em 20 de setembro de 2021
- São Romão (Minas Gerais): Clima tropical com estação seca e estação chuvosa bem definidas. 43,5 °C em 26 de setembro de 2023.
- Porto Murtinho (Mato Grosso do Sul): Tropical úmido e subúmido, período de chuvas de setembro a abril, com maior intensidade em dezembro. 42,9 °C em 26 de setembro de 2023.
- Oeiras (Piauí): Clima é tropical semiárido, com distribuição de chuvas concentradas entre outubro e abril. 42,4 °C em 25 de setembro de 2023.
- Teresina (Piauí): Teresina possui clima tropical semiúmido. 41,6 °C em 24 de outubro de 2012.
- Três Lagoas (Mato Grosso do Sul): Clima tropical quente e úmido. 41,5 °C em 25 de setembro de 2004.
As cidades mais frias do mundo são geralmente encontradas em regiões próximas aos polos, como a Sibéria (Rússia) e o Canadá:
- Oymyakon (Rússia): Conhecida como o ponto mais frio habitado do planeta. Clima subártico extremo (classificação climática de Köppen Dfd, classificação climática de Trewartha Ecle). -71,2 °C em janeiro de 1924.
- Verkhoyansk (Rússia): Localizada dentro do Círculo Polar Ártico, tem um clima subártico extremo em vez de um clima de tundra, dominado grande parte do ano por alta pressão. Isso tem o efeito de cortar a região das influências de aquecimento no inverno e, juntamente com a falta de cobertura de nuvens, leva a grandes perdas de calor durante os meses mais frios. -67,8 °C, registrada em 15 de janeiro de 1885 e em 5 e 7 de fevereiro de 1892.
- Yakutsk (Rússia): é a capital e maior cidade de Sakha, Rússia, localizada a cerca de 450 km ao sul do Círculo Polar Ártico. Clima subártico intensamente continental (classificação climática de Köppen Dfc, que faz fronteira com Dfd, Trewartha Ecbd), com invernos muito longos e extremamente frios (do início de outubro a maio) e verões muito curtos e amenos. −64,4 °C em 5 de fevereiro de 1891.
- Norilsk (Rússia): Clima subártico extremamente severo (de acordo com a classificação de Koeppen, de transição do subártico (índice Dfc) para o ártico (índice ET)). Norilsk experimenta temperaturas negativas por cerca de 240 dias por ano, e a cobertura de neve dura de sete a nove meses, com mais de 50 dias de tempestades de neve. -64 °C em 30 de janeiro de 2014.
- Snag (Canadá): Clima subártico (classificação climática de Köppen Dfc) com verões amenos e invernos severamente frios e longos. -62,2 °C em 2 de fevereiro de 1947.
- Mohe (China): em virtude de sua localização no extremo norte e proximidade com a Sibéria, é um dos poucos locais na China com um clima subártico (Köppen Dwc, Trewartha Ecbd), beirando o clima continental extremamente úmido, com invernos longos, secos e rigorosos. -53 ºC em 22 de janeiro de 2023.
- Yellowknife (Canadá): Clima subártico (Köppen: Dfc, Trewartha Ecld). Embora o inverno seja predominantemente polar, ondas de calor rápidas surgem no auge do verão devido ao imenso caminho para o sul. -51,2 °C em 31 de janeiro de 1947.
- Utqiagvik (Alasca): Devido à sua localização a 530 km ao norte do Círculo Polar Ártico, o clima de Utqiagvik é frio e seco, classificado como clima de tundra (Köppen ET). O inverno pode ser perigoso devido à combinação de frio e vento. -49 °C em 3 de fevereiro de 1924.
- Winnipeg (Canadá): A localização de Winnipeg nas pradarias canadenses lhe confere um clima continental úmido de verão quente (Köppen: Dfb), com verões quentes e úmidos e invernos longos e extremamente frios. -47.8 °C em 24 de dezembro de 1879.
- Ulaanbaatar (Mongólia): A cidade fica na zona de permafrost descontínuo, o que significa que a construção é difícil em locais abrigados que impedem o degelo no verão. Clima semiárido frio influenciado pelas monções (Köppen BSk, Trewartha BSbc, USDA Plant Hardiness Zone 3ª). -43,9 °C em janeiro de 1957.
- Harbin (China): Clima continental úmido influenciado pelas monções (Köppen: Dwa). Devido à alta da Sibéria e sua localização acima de 45 graus de latitude norte, a cidade é conhecida por seu clima frio e longo inverno. Seu apelido de Cidade do Gelo é bem-merecido, já que os invernos na cidade são secos e congelantes. -42,6 º C em janeiro de 1931.
As cidades mais frias do Brasil estão localizadas principalmente na região Sul e em áreas de serra, onde as temperaturas podem ser bastante baixas, especialmente durante o inverno:
- Urubici (Santa Catarina): Clima subtropical úmido com influência de altitude, também conhecido como clima temperado oceânico. No cume do Morro da Igreja (1.822 metros), o ponto mais alto habitado do sul do Brasil foi registrado −17,8 °C, em 29 de junho de 1996.
- São José dos Ausentes (Rio Grande do Sul): Clima temperado oceânico. –11 °C em 2 de agosto de 1991.
- Bom Jardim da Serra (Santa Catarina): clima temperado oceânico, com temperaturas amenas no verão e baixas no inverno e chuvas bem distribuídas durante o ano. -10,9 ºC em 19 de junho de 2023.
- São Joaquim (Santa Catarina): Clima temperado oceânico com precipitação uniforme. −10 °C no dia 2 de agosto de 1991.
- São Bento do Sul (Santa Catarina): clima subtropical úmido (Cfb), segundo a classificação climática de Köppen. -10 °C em 2 de agosto de 1991.
- Urupema (Santa Catarina): Clima temperado oceânico: um clima com temperaturas amenas e chuvas bem distribuídas ao longo do ano, com verões frescos e invernos rigorosos, com possibilidade de neve. A altitude elevada (1.450 metros) contribui para as baixas temperaturas, tornando-a conhecida como a cidade mais fria do Brasil. -9,4 °C a 7 de julho de 2019.
- Campos do Jordão (São Paulo): Clima é classificado como temperado oceânico (do tipo Cfb na classificação climática de Köppen-Geiger). −7,3 °C em 1 de junho de 1979.
- Cambará do Sul (Rio Grande do Sul): Clima temperado úmido, também classificado na escala de Köppen-Geiger por subtropical tipo Cfb, influenciado pela sua altitude de cerca de 1020 m, pelas massas polares oceânicas que atuam na escarpa da Serra Geral. –7,2 °C em 14 de julho de 2000.
- Gramado (Rio Grande do Sul): Clima úmido temperado, zona climática Cfb, segundo a classificação do clima de Köppen. -6 °C em 20 de julho de 1999.
- Monte Verde (Minas Gerais): Clima temperado oceânico (Cfb/Cwb, de acordo com a classificação climática de Köppen-Geiger), apresentando verões suaves, graças à altitude da Serra da
- Mantiqueira e à alta pluviosidade da estação. −4,5 °C em 30 de julho de 2021.
- Canela (Rio Grande do Sul): Clima oceânico (Cfb, segundo a classificação climática de Köppen-Geiger). −3,9 °C em 14 de julho de 1972.
Efeitos do Calor Extremo no Corpo Humano
Os maiores riscos para a saúde começam quando a temperatura do ar supera a do corpo humano, que é de cerca de 36,5 ºC. Os grupos mais vulneráveis ao calor extremo são os idosos (especialmente os que moram sozinhos ou socialmente isolados, representam até 75 % das mortes), as crianças, as pessoas com doenças crônicas e comorbidades.
Comorbidades se caracterizam pela presença de duas ou mais doenças ou condições médicas que podem ou não ter relação entre si, tais como: câncer, diabetes, doenças cardíacas (como a arritmia), doenças pulmonares, doenças renais, hipertensão e obesidade. Incluem condições mentais como: depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar e transtornos de ansiedade.
Temperaturas elevadas podem causar uma variedade de efeitos no corpo humano, desde desconforto leve até condições graves e potencialmente fatais. O corpo tenta regular a temperatura interna através da transpiração e dilatação dos vasos sanguíneos, mas em temperaturas muito altas, esses mecanismos podem falhar, levando a problemas como insolação e exaustão pelo calor. Em áreas com alta humidade do ar, como na Amazônia, acrescenta uma dificuldade no controle desta temperatura.
Os distúrbios hidroeletrolíticos ocorrem quando perdemos uma quantidade significativa de líquidos corporais e de eletrólitos (minerais carregados eletricamente – cálcio, magnésio, potássio, sódio, entre outros – que regulam o equilíbrio hídrico, funções musculares e nervosas e manutenção do pH do sangue). Ao reduzir a quantidade de água no sangue e obriga o coração a trabalhar mais para manter a pressão arterial, o que pode provocar taquicardia ou até mesmo infarto, se tiver tenha um problema cardíaco pré-existente.
Efeitos das altas temperaturas no corpo humano:
Desidratação: a transpiração excessiva leva à perda de líquidos e eletrólitos, resultando em desidratação, que pode afetar o funcionamento de órgãos como rins e cérebro.
- Exaustão: cãibras musculares, confusão mental, desmaios, dor de cabeça, fraqueza, inchaço nas pernas, náuseas, suor em excesso e tontura (não necessariamente nesta ordem).
- Insolação: ocorre quando a temperatura corporal ultrapassa os 40 °C e não consegue mais regular sua temperatura: pele quente e seca, dor de cabeça, confusão mental, convulsões, náuseas, vômitos e perda de consciência, podendo causar danos cerebrais e em outros órgãos.
- Pressão baixa: a vasodilatação para tentar se resfriar, pode ter efeito colateral como queda de pressão. Se existir uma pré-disposição a pressão baixa, há risco de desmaios e de quedas. Especialmente crítico em idosos, que podem se machucar seriamente com lesões e fraturas.
- Problemas cardiovasculares: aumenta o risco de arritmias cardíacas e ataques cardíacos, especialmente em pessoas com doenças cardíacas preexistentes. Os vasos sanguíneos periféricos se dilatam para aumentar a circulação sanguínea e a troca de calor corporal com o ambiente, numa tentativa de resfriar o organismo. O coração trabalhando de forma mais intensa, aumentando o risco de infartos. A vasodilatação aumenta o risco para acidentes vasculares cerebrais (AVC).
- Problemas mentais: o calor extremo pode potencializar condições adversas de saúde mental como ansiedade e depressão, além de aumentar o risco de violência e agressividade.
- Problemas renais: a desidratação pode prejudicar a função renal e aumentar o risco de cálculos renais.
- Problemas respiratórios: o ar quente e seco geralmente irrita as vias aéreas, causando problemas respiratórios, principalmente em asmáticos. O calor pode levar ao aumento da poluição do ar, o que agrava os problemas respiratórios
Efeitos das Baixas Temperaturas no Corpo Humano
A exposição a baixas temperaturas pode desencadear uma série de efeitos no corpo humano, desde reações fisiológicas para manter o calor até condições mais graves como hipotermia e congelamento. O corpo tenta manter a temperatura através de tremores, vasoconstrição e aumento da taxa metabólica. Se a exposição for prolongada ou muito intensa, pode ocorrer hipotermia, caracterizada pela queda da temperatura corporal abaixo do normal, e até mesmo o congelamento (pouco provável na maioria do Brasil), que afeta principalmente as extremidades. O envelhecimento afeta a capacidade do corpo em se adaptar ao frio: ficamos menos eficientes nas respostas à baixas temperaturas e em desviar sangue da superfície do corpo.
“Se a temperatura estiver entre os 33°C e os 35°C, os sintomas que aparecem são: tremores leves, mãos e pés começam a sentir falta de circulação sanguínea e apresentam dormência, cansaço excessivo e lentidão nos movimentos. Se a temperatura do corpo está entre 30°C e 33°C, os tremores passam a ser mais intensos e incontroláveis, a pessoa apresenta dificuldades na fala e ao controlar os movimentos do corpo e a frequência cardíaca e respiratória diminui bruscamente. Se a temperatura for abaixo dos 30°C, há a perda total do controle dos membros inferiores e superiores, a perda dos sentidos, as pupilas ficam dilatadas, e a pessoa que se encontra nessa situação tem a respiração seriamente comprometida com risco sério de parada cardíaca-respiratória, além de perder, na maioria das vezes, a consciência.” ()
Efeitos da exposição a baixas temperaturas:
- Congelamento: pele e tecidos são danificados pelo frio, causando palidez, endurecimento, “queimaduras”, dor e bolhas.
- Hipotermia: ocorre quando a temperatura corporal cai abaixo de 35 °C, podendo levar a confusão mental, sonolência, dificuldade respiratória, alterações cardíacas e, em casos graves, coma e morte. Quanto menor for a temperatura corporal, maior é o risco de morte. A morte pode ocorrer a temperaturas corporais inferiores a 31 °C, e quase inevitável abaixo dos 28 °C.
- Infecções virais do sistema respiratório: resfriados, gripes e pneumonias. Principais motivos: i) Aumento da circulação de vírus respiratórios, bem como baixas temperaturas aumentam a sobrevivência e a transmissibilidade dos vírus respiratórios; ii) Diminuição dos mecanismos de defesa naturais do sistema respiratório, aumentado o risco de infecções e crises de asma; e iii) Tendência à aglomeração e a permanência em ambientes fechados facilitando a maior circulação e transmissão desses patógenos.
- Lesões dermatológicas: pode causar outras lesões na pele, ulcerações e enregelamento de membros.
- Problemas cardíacos/cardiovasculares: pode aumentar a pressão arterial e o risco de ataques cardíacos em pessoas com doenças cardíacas e cardiovasculares pré-existentes: acidente vascular cerebral (AVC), doença coronariana aguda, infarto agudo do miocárdio, tromboembolismo pulmonar, entre outros. Baixas temperaturas podem provocar o aumento do colesterol, do número de glóbulos vermelhos e do fibrinogênio (proteína que atua na coagulação do sangue), favorecendo a ocorrência de eventos cardiovasculares.
- Problemas mentais: a exposição ao frio pode levar a confusão mental, perda de coordenação e dificuldades motoras.
- Termorregulação: o corpo tenta manter a temperatura central através de tremores musculares, para aumentar a produção de calor, e vasoconstrição, que reduz o fluxo sanguíneo para os órgãos periféricos, diminuindo a perda de calor para o ambiente.
Mortes Associadas a Variações Extremas de Temperatura
Aproximadamente 135 milhões de pessoas nascem por ano no mundo, enquanto cerca de 56 milhões morrem no mesmo período. As principais causas de morte incluem doenças cardiovasculares, câncer e outras doenças não transmissíveis, que juntas são responsáveis por 73% das mortes.
A cada novo evento ou tragédia ambiental uma “enxurrada” de justificativas, explicações e propostas (raramente técnica e economicamente viáveis) são apresentadas. Mesmo que estas ocorrências estejam devidamente registradas nos últimos 524 anos. A última moda é culpar as mudanças climáticas antropogênicas (fenômeno amplo, complexo e impessoal) por absolutamente tudo que acontece nos desastres naturais e justificativa para inação pontual/local.
Manchetes de todo o mundo nos falam de milhares (até bilhões???) de mortes causadas por ondas de calor recentes. As notícias invariavelmente culpam as mudanças climáticas e nos alertam para enfrentá-las com urgência. Mas, na maioria das vezes, as notícias alarmistas climáticas tendenciosas nos deixam mal-informados:
- De acordo com o fundador do grupo ativista ambiental Extinction Rebellion, a mudança climática levará ao “massacre, morte e fome de 6 bilhões de pessoas neste século”;
- De acordo com o Just Stop Oil, o grupo climático por trás de muitas ações disruptivas que fazem manchetes, qualquer exploração adicional de petróleo e gás equivalerá a “genocídio e à fome e massacre de bilhões e condenará a humanidade ao esquecimento”.
- Quatro em cada 10 americanos acreditam que o aquecimento global provavelmente levará à extinção humana.
- Oito em cada dez consideram as mudanças climáticas um “risco catastrófico”;
- Um quarto dos adultos sem filhos citam a mudança climática como parte de sua motivação para não ter filhos. Afinal, qual é o sentido de ter filhos se você não pode dar a eles um futuro habitável? Como disse uma jovem: “Sinto que não posso, em sã consciência, trazer uma criança a este mundo e forçá-la a tentar sobreviver ao que podem ser condições apocalípticas.”
As catástrofes naturais – desde inundações a tempestades e secas – afetam milhões de pessoas todos os anos. No entanto, não estamos indefesos contra elas, e o número de mortes a nível mundial, especialmente devido a secas e inundações, foi reduzido.
Embora as catástrofes naturais sejam responsáveis por uma pequena fração de todas as mortes a nível mundial, podem ter um grande impacto, especialmente nas populações vulneráveis com infraestruturas insuficientes para proteger e responder eficazmente. Compreender a frequência, a intensidade e o impacto dos desastres naturais são cruciais se quisermos estar mais bem preparados e proteger a vida e os meios de subsistência das pessoas.
As pessoas dizem frequentemente que as alterações climáticas podem matar milhões de pessoas. Mas e se for mais complicado do que isso? E se a tecnologia moderna, possibilitada pelos combustíveis fósseis, salvar milhões de pessoas? Basta olhar para os dados.
Por enquanto, o aumento das temperaturas provavelmente salva vidas. Um estudo histórico publicado na revista médica Lancet constatou que as mudanças climáticas nas últimas décadas, em todas as regiões, evitaram mais mortes por frio do que causaram mortes por calor. Em média, elas salvam mais de 100.000 vidas por ano. ()
Mortes por calor matam cerca de 2.500 pessoas todos os anos nos Estados Unidos e no Canadá. No entanto, o aumento das temperaturas também reduz as ondas de frio e as mortes por frio. O frio restringe o fluxo sanguíneo para manter nosso núcleo aquecido, aumentando a pressão arterial e matando por derrames, ataques cardíacos e doenças respiratórias. A cada ano, mais de 100.000 pessoas morrem de frio nos Estados Unidos e 13.000 no Canadá — mais de 40 mortes por frio para cada morte por calor.
O mesmo padrão se mantém, inclusive em países que não costumam ser associados a invernos rigorosos. Na Índia, as mortes por frio superam as mortes por calor em uma proporção de 7 para 1. Globalmente, 1,7 milhão de pessoas morrem de frio a cada ano, superando em muito as mortes por calor (300.000).
“O Brasil, …, em 18 cidades onde vivem mais de 30 milhões de pessoas (12 delas capitais), houve 3,86 milhões de óbitos de 1997 a 2018. Nesses 22 anos, 113.528 mortes ocorreram em consequência do frio e 29.170 do calor, com perdas anuais que somaram US$ 352,5 milhões, no primeiro caso, e os já citados US$ 90,6 milhões, no segundo.” ()
“Entre 1º de janeiro de 2000 e 31 de dezembro de 2019, a temperatura média diária foi de 15,23 °C em assentamentos populacionais com tamanho populacional perceptível. A Europa Oriental teve a temperatura média diária mais fria (2,36 °C e os climas mais quentes apareceram no sudeste da Ásia (26,35 °C) e regiões da Oceania além da Austrália e Nova Zelândia (26,05 °C). A temperatura ambiente média diária global aumentou a uma taxa média de 0,26°C por década entre 2000 e 2019, variando da maior taxa de aumento em outras regiões da Oceania (0,48°C por década) à temperatura diminuindo a uma taxa de -0,16°C por década (0,53) no sul da Ásia.
Globalmente, 5.083.173 mortes (95%) foram associadas a temperaturas não ideais por ano, consistindo em 4 594 098 mortes relacionadas ao frio e 489.075 mortes relacionadas ao calor. De todas as mortes em excesso, 51,49% ocorreram na Ásia, 23,88% ocorreram na África, 16,44% ocorreram na Europa, 7,70% ocorreram nas Américas e 0,48% ocorreram na Oceania. A maioria das grades com alta densidade de mortes em excesso estavam em grandes cidades costeiras baixas e lotadas no leste e sul da Ásia e cidades no leste e oeste da Europa.” ()
No entanto, a obsessão em reduzir as emissões de CO₂ acaba promovendo algumas das maneiras menos eficazes de ajudar futuras vítimas do calor e do frio. As políticas climáticas, na melhor das hipóteses, conterão um pouco o aumento das mortes por calor. Já conhecemos maneiras muito mais eficazes e simples de ajudar. Essas maneiras incluem tornar o ar-condicionado mais amplamente disponível, emitir alertas de calor, abrir piscinas públicas e shoppings com ar-condicionado e incentivar as pessoas a usarem ventiladores e beber bastante água.
Combater as mortes por frio se mostra muito mais difícil, pois exige casas bem aquecidas ao longo de semanas e meses. Além disso, políticas climáticas severas aumentarão os custos de aquecimento e tornarão as mortes por frio ainda mais prevalentes. Políticas climáticas que taxam o CO2, elevam os preços do gás natural e GLP significarão que menos pessoas poderão aquecer adequadamente suas casas; a taxa de mortalidade por frio disparará novamente.
Os impactos destes desastres poderiam ser reduzidos mediante adoção de ações prevenção, preparação e respostas. As ações relacionadas ao gerenciamento de riscos de desastres (entre eles ondas de calor e de frio, secas e cheias) constituem um ciclo que contém as seguintes fases:
Fase de prevenção: compreende a execução de medidas estruturais – relacionadas à realização de obras que visam à redução do risco de ocorrência do desastre – e medidas não estruturais – voltadas para a redução da vulnerabilidade de uma determinada população frente ao risco de desastre em uma dada localidade. Ambas as medidas estão relacionadas à criação da cultura de percepção de risco, mudança de comportamento, incorporação de boas práticas, estudos e avaliações.
Fase de preparação: tem foco na mitigação dos efeitos no caso da ocorrência de algum desastre. Nesse sentido, atividades como emissão de alertas e elaboração de planos de contingência têm a finalidade de preparar melhor a população para enfrentamento do desastre a fim de reduzir os efeitos de seu impacto sobre ela. A competência legal para a elaboração de Planos de Contingência é dos municípios, por meio de suas defesas civis e com o auxílio das defesas civis estaduais. Ao Poder Executivo Federal, cabe a prestação de apoio complementar às ações dos Estados, Municípios e Distrito Federal.
Fase de resposta: ocorre durante e após o desastre, são previstas ações de socorro, assistência humanitária e restabelecimentos dos serviços essenciais. A União tem responsabilidade de prestar apoio complementar aos Estados, Municípios e DF, cabendo ao Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Prevenção de Desastres – CENAD/SEDEC a coordenação dessas ações complementares em âmbito federal.
Fase de reconstrução: prevê a transferência de recursos financeiros a fim de complementar o apoio por parte do Poder Executivo Federal aos entes afetados em suas ações de reconstrução de infraestrutura eventualmente danificada e ou destruída, incluindo moradias.
Porém os “5 pecados capitais” das tragédias humanas potencializam e aumentam os efeitos negativos destes desastres: negligência, impudência, imperícia, desídia e ineficiência.
- Negligência (omissão ou falta de observação no dever de prevenção, preparação e respostas, ou seja, aquele de agir de forma, prudente, não age com o cuidado exigido pela situação e deixa acontecer);
- Imprudência (imprevidência, tem a ver com algo mais do que a mera falta de atenção ou cuidado. Pode até se revelar de má fé, extrapola os limites da inteligência e do bom senso);
Imperícia (falta de técnica, conhecimento ou até falta de habilidade, erro ou engano na execução de alguma tarefa que ele deveria saber), ou - Desídia (comportamento negligente, usado para representar a atitude de um funcionário que executa suas funções com desleixo, preguiça, desatenção ou má vontade. Falta de zelo e atenção para com alguma atividade ou função. A procrastinação excessiva, a falta de compromisso e a tentativa de evitar qualquer tipo de esforço físico ou moral são algumas das características que configuram a desídia).
- Ineficiência – a baixíssima capacidade de investir rápido e bem em ações contra os efeitos dos desastres naturais. No Brasil, o poder público gasta muito e gasta mal. O Estado é ineficiente em todos os níveis: no governo federal, nos Estados e nos municípios. Órgãos internacionais como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o Banco Mundial e a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) fizeram estudos sobre a baixa qualidade dos gastos públicos no Brasil. As estimativas do impacto dessa ineficiência variam entre 3,9% e 7% do PIB nacional. Um dos motivos para a gastança de má qualidade é a falta de critérios técnicos para a alocação de recursos. Em vez de ir para onde é mais necessário, muitas vezes o dinheiro é direcionado para onde trará mais dividendos políticos, sem falar no que é desviado no caminho.
Apesar das Mudanças Climáticas, Hoje é a Melhor Época para Nascer ()
O momento presente se destaca como a era mais promissora e esperançosa, apesar da ansiedade generalizada em relação ao clima. Os avanços na tecnologia, na saúde e no desenvolvimento econômico melhoraram drasticamente os padrões de vida, tornando este o melhor momento da história para começar uma vida.
Cinquenta anos atrás, em 1973, a taxa global de mortalidade infantil era três vezes e meia maior do que hoje, e em 1923, era quase nove vezes maior. O passado distante foi ainda pior. Em toda a história humana até a Revolução Industrial, pelo menos três em cada 10 crianças morreram antes de completar cinco anos. No último meio século, a pobreza extrema também foi reduzida, pela primeira vez na história: enquanto nove em cada 10 pessoas eram extremamente pobres antes da Revolução Industrial, hoje as proporções estão invertidas: menos de uma em cada 10 está abaixo do nível de pobreza absoluta. Em quase todos os aspectos, o mundo é um lugar muito melhor para se nascer agora do que em qualquer outro momento da história.
A realidade sobre o aquecimento global é, na verdade, muito melhor do que você imagina. Se você consumiu uma dose nada saudável de pornografia catastrófica sobre o clima, provavelmente acabou tendo uma visão do futuro muito mais sombria e aterrorizante do que o cientificamente plausível.
A principal razão pela qual os economistas do clima esperam que os efeitos negativos das mudanças climáticas sejam superados por desenvolvimentos positivos é a engenhosidade humana. Nossa espécie sempre desenvolveu soluções inteligentes para nos proteger contra os elementos naturais, povoando muitas regiões da Terra que seriam “inabitáveis” sem tecnologia, mas especialmente nos últimos dois séculos, nosso domínio sobre a natureza alcançou sucessos espetaculares. A melhor ilustração é aquela que está na mente de todo catastrofista climático: desastres naturais. Apesar do que todos acreditam e do que todas as manchetes sensacionalistas estão dizendo, as mortes globais por milhão de pessoas devido a desastres naturais caíram por um fator de 100 no último século. A Mãe Natureza se tornou mais violenta e caprichosa nos últimos anos (pelo menos quando se trata de furacões e inundações, embora não de terremotos ou erupções vulcânicas), mas isso torna nossa conquista ainda mais impressionante.
Nas ocasiões restantes em que as notícias relatam uma inundação ou furacão que causou dezenas de milhares de vítimas, a explicação é quase sempre a pobreza e, portanto, a falta de resiliência. Para países ricos e resilientes, uma onda de calor ou furacão é geralmente pouco mais do que um inconveniente ou incômodo administrável na pior das hipóteses, mas para países pobres pode significar fome, falta de moradia e morte em grande escala.
Quando o pai fundador de Cingapura, Lee Kuan Yew, foi questionado sobre o que possibilitou o milagre econômico da cidade-estado tropical (seu PIB per capita é 65% maior que o dos EUA), sua resposta foi simples: ar-condicionado moderno. Mesmo nos EUA, cidades como Phoenix ou Las Vegas seriam virtualmente inabitáveis sem resfriamento artificial.
Os imensos benefícios da inovação humana são igualmente evidentes no extremo oposto da escala de temperatura: quatro milhões de pessoas vivem atualmente acima do Círculo Polar Ártico, onde as temperaturas do inverno podem matar qualquer ser humano sem tecnologia de proteção suficiente — de roupas a isolamento — em uma hora.
As mudanças climáticas causarão alguns danos aos sistemas de produção de alimentos, pelo menos em algumas regiões, em comparação com um mundo sem mudanças climáticas (embora definitivamente também beneficiem algumas regiões). Mas em qualquer cabo de guerra entre o clima e a engenhosidade humana, seria aconselhável apostar na última. No último meio século, fertilizantes artificiais, irrigação, modificação genética e colheita mecanizada tornaram a agricultura muito mais resiliente contra extremos climáticos, quadruplicando a produção global de alimentos, mesmo com a Terra aquecendo em 1,2 graus Celsius. Graças à globalização do nosso sistema alimentar, as fomes são agora, em grande parte, uma coisa do passado, e as únicas que permanecem são causadas por conflitos políticos e má gestão.
Cada vez mais climatologistas estão começando a se opor ao pessimismo excessivo e, especialmente, ao derrotismo em relação ao clima, mas, francamente, eles deveriam assumir parte da culpa por enganar o público. Durante anos, publicações científicas sérias tenderam a se concentrar nas previsões mais dramáticas e nos cenários mais atípicos.
Mas agora que finalmente escapamos de milhares de anos de trabalho árduo e sofrimento e entramos em uma era de abundância, seria bizarramente autoindulgente imaginar que hoje, de todos os tempos, é o momento errado para nascer.
Conclusões
A segurança energética e a confiabilidade na oferta de energia elétrica aumentam a eficiência dos sistemas de ar-condicionado, climatizadores, ventiladores e aquecedores. Técnicas construtivas e materiais de revestimento bem como peças de vestuário adequadas à cada estação do ano aumentam o conforto térmico. Saneamento básico (medidas e ações que visam garantir condições de higiene e saúde pública, através do controle e tratamento de elementos ambientais como água, esgoto, resíduos sólidos e drenagem urbana) e saneamento ambiental (ações e políticas que visam a sustentabilidade e qualidade dos recursos naturais, conservação e recuperação do meio ambiente, incluindo a qualidade do ar, água, solo e a gestão de resíduos de forma sustentável, além da promoção da educação ambiental), aumentam a expectativa de vida.
“À sua maneira, a morte é a coisa mais natural de todas.” (Meistre Pycelle em A guerra dos tronos, George R. R. Martin)
Existe diferentes causas que podem nos levar à morte. Mas os extremos climáticos não estão no topo da lista. As mortes por frio são 10 vezes maiores que as mortes por calor. Porém, os extremos climáticos contribuíram direta ou indiretamente com menos de 9 % das causas de morte no mundo:
O sábio rei Salomão registrou no livro de Eclesiastes (7:1) na Bíblia, a frase “melhor o dia da morte do que o dia do nascimento” explorando a natureza transitória da vida e a busca pelo significado em um mundo imperfeito. Como sabedoria e reflexão, o dia da morte pode ser mais proveitoso para a pessoa do que o dia do nascimento. Não que a morte seja preferível à vida, mas sim que a morte nos leva a refletir sobre o propósito da vida, a mortalidade e a importância de viver de forma significativa. Um estímulo para a reflexão e a busca por um sentido mais profundo na vida. O dia da morte nos confronta com a realidade da nossa própria mortalidade, levando-nos a questionar o propósito da nossa existência e a importância de viver de acordo com valores pessoais e éticos elevados. Faça a diferença, seja a diferença com a sua existência, seus propósitos e suas ações!
Enio Fonseca – Engenheiro Florestal, Senior Advisor em questões socioambientais, Especialização em Proteção Florestal pelo NARTC e CONAF-Chile, em Engenharia Ambiental pelo IETEC-MG, em Liderança em Gestão pela FDC, em Educação Ambiental pela UNB, MBA em Gestão de Florestas pelo IBAPE, em Gestão Empresarial pela FGV, Conselheiro do Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico, FMASE, foi Superintendente do IBAMA em MG, Superintendente de Gestão Ambiental do Grupo Cemig, Chefe do Departamento de Fiscalização e Controle Florestal do IEF, Conselheiro no Conselho de Política Ambiental do Estado de MG, Ex Presidente FMASE, founder da PACK OF WOLVES Assessoria Ambiental, foi Gestor Sustentabilidade Associação Mineradores de Ferro do Brasil e atual Diretor Meio Ambiente e Relações Institucionais da SAM Metais. Membro do Ibrades, Abdem, Adimin, Alagro, Sucesu, CEMA e CEP&G/ FIEMG e articulista do Canal direitoambiental.com.
Decio Michellis Jr. – Licenciado em Eletrotécnica, com MBA em Gestão Estratégica Socioambiental em Infraestrutura, extensão em Gestão de Recursos de Defesa e extensão em Direito da Energia Elétrica, é Coordenador do Comitê de Inovação e Competitividade da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica – ABCE, assessor técnico do Fórum do Meio Ambiente do Setor Elétrico – FMASE e especialista na gestão de riscos em projetos de financiamento na modalidade Project Finance.
https://independent.academia.edu/DecioMichellisJunior
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O Dever que Persiste: A Responsabilidade do Município Após a Destinação dos Resíduos ao Aterro