terça-feira , 17 junho 2025
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Escassez hídrica devo me preocupar?

Enio Fonseca e Decio Michellis Jr.

A hora e o dia eu não sei
Pode ser hoje ou amanhã
Antes do que imaginei
Nada pode impedir …
Vai acabar …
Indiferente se acredito ou não …
Quem viver verá …
Tá chegando a hora do dia do fim.
(“Vai Acabar”, Fruto Sagrado)

A maioria de nós esqueceu que a água doce vem da chuva (ciclo hidrológico) e a comida vem do solo.

Passamos a acreditar que a água está na torneira e nosso alimento na gondola do supermercado, ignorando toda a cadeia produtiva necessária à oferta destes bens essenciais à vida humana.

Há água suficiente para satisfazer as crescentes necessidades do mundo, mas não sem mudar a forma de geri-la. (Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos – ONU)

O fluxo natural de água terrestre é baseado no vapor de água que chega às áreas terrestres a partir do oceano, a água cai como precipitação com alguma sendo reevaporada da paisagem com o fluxo restante, de cerca de 40 Tt/ano (1 Tt = 1012 t = 1015 kg), fluindo de volta para o oceano para equilibrar o fluxo de vapor de água do oceano. O fluxo de vapor de água oceânico é 6 vezes maior do que o fluxo de vapor de água terrestre, embora a área de superfície global da água seja apenas cerca de 3 vezes maior do que a área terrestre (). Isso ocorre porque: (1) a superfície do oceano é mais escura e, portanto, absorve mais energia solar e (2) a superfície do oceano está sempre úmida, o que aumenta a transferência de massa em comparação com a superfície terrestre, que às vezes está úmida e às vezes está seca. A qualquer momento, a atmosfera contém cerca de 13 Tt de água, o que contribui com a maior parte do efeito estufa, e uma determinada molécula de água, em média, passa apenas cerca de 10 dias na atmosfera cada vez que passa pelo ciclo. () As emissões antropogênicas de água são grandes o suficiente para resultar em um aumento incremental de ~5 a 7% (4 a 5 Tt/ano) no fluxo de água da terra para a atmosfera e um aumento semelhante no vapor d’água na atmosfera em áreas terrestres impactadas pelo uso humano da água, como irrigação, resfriamento evaporativo e evaporação de reservatórios.

Outra curiosidade interessante é que pequenos cometas adicionam água à superfície da Terra. A uma taxa de um cometa de 20 a 40 toneladas a cada três segundos, esse influxo de pequenos cometas na atmosfera adicionaria cerca de um centímetro de água à superfície da Terra a cada 20.000 anos aproximadamente. Os pequenos cometas são “bolas de neve” gigantes, frouxamente compactadas, com algum tipo de casca fina, talvez feita de carbono, que os mantém unidos enquanto viajam pelo espaço interestelar. Mas, à medida que se aproximam da Terra eletricamente carregada, o estresse eletrostático sobre esses objetos faz com que se fragmentem a uma altitude de cerca de 1.280 km acima da Terra. A rápida erosão eletrostática parece ser o mecanismo responsável pela remoção do fino manto protetor do núcleo de água e neve de um pequeno cometa. Quando os fragmentos do cometa descem a cerca de 960 km, os fragmentos da “bola de neve” já foram vaporizados pelos raios solares. ()

Secas e Estiagens

“A seca é caracterizada por precipitações abaixo da média em uma determinada área durante um período de tempo prolongado, ocasionando um suprimento inadequado de água (McCANN et al., 2011a). Tuan (2005), entretanto, descreve a seca como algo mais abrangente que a simples ausência de chuva: “é um fenômeno invisível, exceto pela devastação que provoca: colheitas reduzidas, animais mortos e pessoas malnutridas”.

McCann et al. (2011a) mencionam várias consequências para a saúde pública devido à falta de água: a seca geralmente provoca uma diminuição na produção de alimentos, ocasionando fome e má nutrição em algumas regiões; a qualidade do ar pode ser afetada pela presença prolongada de partículas em suspensão no ar, o que agrava doenças pulmonares; a fumaça proveniente de queimadas, comuns em regiões de seca, também provoca ou agrava problemas respiratórios; pode haver um aumento de doenças transmitidas por vetores e também de doenças provocadas por fungos, porque durante a seca a inalação de esporos dos fungos torna-se mais fácil.

Assim como suas consequências, os tipos de seca podem variar amplamente.
Santos (2007) menciona quatro tipos de seca:
Seca meteorológica é caracterizada pela ausência de precipitação durante um período de tempo. Há uma diminuição na quantidade de água em rios e reservatórios e então ocorre a
Seca hidrológica.

A seca agrícola implica em um déficit de água no solo, resultando em perdas na produção agrícola. Como consequência dos tipos de seca descritos, surge a
Seca socioeconômica, provocando pobreza e estagnação econômica nas regiões afetadas.” ()

Escassez de Água no Brasil

“A água é um elemento essencial à vida e ao desenvolvimento de diversas atividades humanas. A crescente utilização para diversos fins como indústria, produção agropecuária, geração de energia, consumo doméstico, entre outros, observado ainda os efeitos climatológicos, tem feito com que a disponibilidade hídrica não esteja sendo suficiente para atender as demandas e, ainda, manter as condições ambientais mínimas para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental em muito dos espaços territoriais das bacias hidrográficas. Contudo, a escassez de água é um problema que afeta desproporcionalmente as camadas mais vulneráveis da sociedade.

O Brasil é um país rico em recursos hídricos, detendo cerca de 12% da água doce do planeta. No entanto, essa água doce não está uniformemente distribuída pelo território nacional, sendo que a região Norte concentra a maior parte dos recursos hídricos, e o menor percentual da população brasileira.
Em termos de água doce total, o Brasil possui uma quantidade significativa.

Estimativas indicam que o Brasil possui cerca de 113 mil km³ de água em seu subsolo, nos aquíferos e lençóis freáticos. A água doce é fundamental para o abastecimento humano, agricultura, indústria e geração de energia.

É importante ressaltar que, apesar da abundância de água doce, o Brasil também enfrenta desafios em relação à gestão dos recursos hídricos, como a desigualdade regional na distribuição, o consumo excessivo em algumas áreas e a poluição das fontes de água. A água é um recurso finito, e a sua utilização deve ser feita de forma consciente e sustentável para garantir a disponibilidade futura

No Brasil, cerca de 33 milhões de pessoas vivem sem acesso à água potável, segundo dados divulgados pelo Instituto Trata Brasil. O dado chama a atenção pelo fato de o país abrigar dois dos maiores aquíferos do mundo – o Guarani, localizado no Centro-Sul do país, e o Alter do Chão, na Região Norte. Segundo o levantamento, dos municípios analisados, apenas 22 têm 100% de abastecimento de água.” ()

Secas Históricas no Brasil

O Brasil apresenta o Polígono das Secas, publicado pelo Conselho Deliberativo da SUDENE por meio da Resolução nº 176, de 03/01/24, cuja delimitação do semiárido brasileiro abrange 9 estados do Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe) e 2 do Sudeste (Minas Gerais e Espírito Santo); 1.477 municípios; 31 milhões de habitantes; 1.335.298 km² e compreende as áreas sujeitas repetidamente aos efeitos das secas ou apresenta reservas insuficientes de água em seus mananciais, nas regiões do Agreste e Sertão Nordestinos.
Historicamente temos os registros das seguintes secas:

Foram 27,9 mil registros decorrentes da seca e estiagem, de 2013 a 2024.
A seca e a estiagem causaram R$ 413,2 bilhões em prejuízos no Brasil entre 2013 e 2024, o que representa 56,4% do total de R$ 732,2 bilhões em prejuízos registrados por todos os tipos de desastres no período. ()

El Niño e La Niña – Como Afetam o Brasil

Um aspecto proeminente do nosso tempo e clima é a sua variabilidade. Esta variabilidade se altera () ao longo de muitas escalas de tempo e espaço, tais como tempestades e tornados localizados, a tempestades de grande escala, a secas, a escalas de tempo plurianuais, plurianuais e até plurianuais.
Alguns exemplos desta variabilidade temporal mais longa podem incluir uma série de invernos anormalmente amenos ou excepcionalmente severos, e até mesmo um inverno ameno seguido de um inverno rigoroso. Essas variações anuais nos padrões climáticos estão frequentemente associadas a mudanças no vento, pressão atmosférica, rastros de tempestades e correntes de jato que abrangem áreas muito maiores do que a de sua região específica. Por vezes, as mudanças anuais nos padrões climáticos estão ligadas a padrões específicos de clima, temperatura e precipitação que ocorrem em todo o mundo devido aos fenômenos naturais conhecidos como El Niño e La Niña.

El Niño e La Niña são padrões climáticos naturais que resultam de interações entre o oceano e a atmosfera. Ambos envolvem anomalias das temperaturas da superfície do oceano e da circulação atmosférica, resultando em extremos climáticos em todo o mundo.
Enquanto o El Niño consiste no aquecimento anormal do Oceano Pacífico Equatorial, a La Niña é o inverso, provocando o resfriamento do Pacífico Equatorial.

El Niño-Oscilação Sul (ENSO) é um fenômeno climático global que emerge de variações nos ventos e nas temperaturas da superfície do mar sobre o Oceano Pacífico tropical. Essas variações têm um padrão irregular, mas apresentam alguma aparência de ciclos. A ocorrência de ENSO não é previsível. Afeta o clima de grande parte dos trópicos e subtrópicos, e tem ligações com regiões de latitudes mais altas do mundo. A fase de aquecimento da temperatura da superfície do mar é conhecida como El Niño e a fase de resfriamento como La Niña. A Oscilação Sul é o componente atmosférico que o acompanha, que está associado à mudança da temperatura do mar. O El Niño está associado a uma pressão atmosférica ao nível do mar superior ao normal sobre a Indonésia, a Austrália e através do Oceano Índico até ao Atlântico. La Niña tem aproximadamente o padrão inverso: alta pressão sobre o Pacífico central e oriental e pressão mais baixa em grande parte do resto dos trópicos e subtrópicos. Os dois fenômenos duram cerca de um ano cada e normalmente ocorrem a cada dois a sete anos com intensidade variável, com períodos neutros de menor intensidade intercalados. Os eventos El Niño podem ser mais intensos, mas os eventos La Niña podem repetir-se e durar mais tempo.

Um mecanismo chave do ENSO é o feedback de Bjerknes (nomeado em homenagem a Jacob Bjerknes em 1969), no qual as mudanças atmosféricas alteram as temperaturas do mar que por sua vez alteram os ventos atmosféricos num feedback positivo. Os ventos alísios de leste mais fracos resultam numa onda de águas superficiais quentes para leste e na redução da ressurgência oceânica no equador. Por sua vez, isto leva a temperaturas mais altas da superfície do mar (chamadas El Niño), a uma circulação de Walker mais fraca (uma circulação de inversão Leste-Oeste na atmosfera) e a ventos alísios ainda mais fracos. Em última análise, as águas quentes do Pacífico tropical ocidental estão suficientemente esgotadas para que as condições voltem ao normal. Os mecanismos exatos que causam a oscilação não são claros e estão sendo estudados.

Na ciência das alterações climáticas, o ENSO é conhecido como um dos fenômenos de variabilidade climática interna. Não há sinais de que haja mudanças reais no fenómeno físico ENSO devido às alterações climáticas. Os modelos climáticos não simulam o ENSO suficientemente bem para fazer previsões fiáveis. As tendências futuras do ENSO são incertas () () ()
As condições ENSO ocorreram em intervalos de dois a sete anos durante pelo menos os últimos 300 anos, mas a maioria delas foram fracas. ()

El Niño pode ter levado ao desaparecimento dos Moche e de outras culturas peruanas pré-colombianas. Um estudo recente sugere que um forte efeito El Niño entre 1789 e 1793 causou baixos rendimentos agrícolas na Europa, o que por sua vez ajudou a desencadear a Revolução Francesa. () As condições climáticas extremas produzidas pelo El Niño em 1876-77 deram origem à fome mais mortal do século XIX. () Só a fome de 1876 no norte da China matou até 13 milhões de pessoas. 5,25 milhões morrem na Grande Fome de 1876-1878 na Índia. ()

Os eventos La Niña têm sido observados há centenas de anos e ocorreram regularmente durante as primeiras partes dos séculos XVII e XIX. ()

Causas da Escassez

As crises são causadas por um conjunto de fatores que vão desde causas naturais, como a variabilidade sazonal e interanual nos padrões de chuvas, até causas antrópicas, como aumento populacional, aumento da demanda hídrica, acidentes e insuficiência ou ineficiência de ações de gestão. São apresentados (de forma não exaustiva) as principais causas da escassez:

  • Secas e estiagens “naturais”, típicas da variabilidade climática, combinada com equívocos na gestão da terra e da água, são as causas mais prováveis;
  • A essência da escassez de água é a incompatibilidade geográfica e temporal entre a demanda e a disponibilidade de água doce;
  • O aumento da população, a melhoria dos padrões de vida, a mudança dos padrões de consumo e a expansão da agricultura irrigada são as principais forças motrizes da crescente demanda por água;
  • A infraestrutura de tratamento de água pode ser deficiente. Antigas instalações de infraestrutura hídrica não parecem acompanhar o crescimento populacional;
  • A má gestão do território (uso e ocupação do solo) em meio a uma população em expansão pode desestabilizar rapidamente a oferta dos recursos hídricos;
  • A solução para a “falta de água potável” para esses centros populacionais e industriais densos é e sempre foi construir mais armazenamento de água e desperdiçar menos água;
  • A escassez varia ao longo do tempo como resultado da variabilidade hidrológica natural, mas varia ainda mais em função da política econômica vigente, planejamento e abordagens de gestão. A escassez deve se intensificar com a maioria das formas de desenvolvimento econômico, mas, muitas de suas causas podem ser previstas, evitadas ou mitigadas;
  • A escassez econômica de água se deve à falta de investimento em infraestrutura ou tecnologia para captar água de rios, aquíferos ou outras fontes;
  • À medida que as pessoas ascendem na cadeia alimentícia e passam a consumir mais carne bovina, suína, aves, ovos e laticínios, consomem mais grãos indiretamente aumentam o consumo per capita de água;
  • Além do crescimento populacional, a urbanização e a industrialização também ampliam a demanda pela água. Conforme a população rural, tradicionalmente consideradas insignificantes, muda-se para prédios residenciais urbanos com água encanada, o consumo de água residencial pode facilmente triplicar;

  • Muita gente – pouca água – sem as tecnologias necessárias para armazenar e movimentar grandes volumes de água doce e limpa para consumo humano e agricultura. Este fato simples é amplamente conhecido por todos os níveis de governo– há comissões, comitês de bacia, planos de bacia, mecanismos de comando e controle (outorga, cobrança pelo direito de uso de recursos hídricos), convenções tratados e acordos aos montes – nenhum dos quais gera mais água, mas serve apenas para dividir a água disponível de forma um pouco diferente a cada nova demanda. Apesar da escassez de novas fontes de água, as cidades continuam a crescer, com milhares de novas casas sendo construídas e empresas se mudando para a região;
  • As necessidades hídricas dos projetos “verdes” como a produção de hidrogênio “verde”: os aquíferos locais podem não ser capazes de produzir as enormes quantidades de água que os projetos precisarão;
  • O desmatamento é conhecido por reduzir a precipitação e reduz muito a capacidade do solo de reter umidade e recarga do aquífero;
  • Efeitos da burocracia ambiental e da militância ambientalista nas obras de infraestrutura para controle de eventos críticos (cheias e secas).
  • Excesso de zelo na aplicação dos princípios de precaução e prevenção, hostis ao empreendedorismo público e privado;
  • A capacidade crescente de extrair água dos aquíferos com uma rapidez maior do que sua recarga, com o uso de potentes bombas a diesel ou elétricas;
  • Trabalhar na preservação, reutilização e reciclagem da água tem um custo líquido. É um custo líquido que a maioria dos consumidores hidrointensivos não estão interessados em assumir devido à percepção equivocada de que a água é um recurso infinito e de baixo custo. Embora a água possa ser barata, não podemos “produzir” mais dela;
  • O cenário brasileiro de perdas de água no setor de saneamento é bastante problemático. A média brasileira de perdas de água é de aproximadamente 40% (incluindo perdas reais e aparentes), mas em algumas empresas de saneamento essas perdas superam 60%. O elevado índice de perdas de água reduz o faturamento das empresas e, consequentemente, sua capacidade de investir e obter financiamentos. Além disso, gera danos ao meio ambiente na medida em que obriga as empresas de saneamento a buscarem novos mananciais ()
  • Com base em dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2022, o levantamento revela que 37,78% da água potável distribuída no país é perdida antes de alcançar os consumidores finais.

  • As perdas se devem a: i) Vazamentos: Redes de distribuição antigas e malconservadas são grandes responsáveis pelas perdas físicas de água; ii) Erros de medição: Medidores defeituosos ou mal calibrados podem subestimar o consumo, levando a perdas financeiras para as empresas e iii) Consumo não autorizado: Ligação clandestinas e furtos de água também contribuem para as perdas, especialmente em áreas com alta vulnerabilidade social.
  • Reduzir vazamentos de água é uma ótima ideia. Reduzir o desperdício de água é uma ideia igualmente boa. Obrigar as concessionárias de água a consertar redes de distribuição antigas e malconservadas é certamente bom, porque elas geralmente estão menos dispostas a investir na redução de perdas do que deveriam – elas são pagas pela água que fornecem de qualquer maneira, então por que se preocupar em gastar mais dinheiro?
  • Relatórios de escassez de água reproduzem uma versão do alarmismo da emergência climática que tem sido usado pelas burocracias governamentais para centralizar o controle sobre a água (ex.: “E quando olharmos para 2030, o mundo precisará de 56% a mais do que a natureza pode repor através do ciclo da chuva. Precisaremos reutilizar e reciclar a água”). Estão repletos das mensagens habituais sobre as mudanças climáticas que tornam as secas mais frequentes e longas, e a água mais escassa, então, obviamente, precisamos agir — ou melhor, deixar que os políticos e os empresários do setor ajam em nosso nome, porque eles sabem o que estão fazendo: com IA e educação — e com restrições ao consumo de água.
  • A climatologista Drª Judith Curry alerta: “O clima não é estacionário em nenhuma escala de tempo – além da tendência secular de aquecimento global, há variabilidade climática natural de várias décadas a milenares que fornece um envelope para a variabilidade climática decadal e interanual… O sinal do aquecimento global nas estatísticas de eventos climáticos extremos continua muito menor do que o da variabilidade natural do clima, e deve permanecer assim pelo menos até a segunda metade do século XXI. Os problemas com o uso de modelos climáticos globais como base para avaliar os extremos climáticos regionais futuros são:
  • As simulações do modelo climático usadas para os relatórios de avaliação do IPCC incluem apenas cenários para emissões futuras; eles não incluem previsões da variabilidade natural do clima (produção solar, erupções vulcânicas ou a evolução de circulações oceânicas multidecadais em grande escala).
  • Como os modelos climáticos globais não representam adequadamente as circulações oceânicas em várias décadas, eles fazem um trabalho pobre em simular a variabilidade climática regional e em escala decadal.
  • Os modelos climáticos não simulam com precisão a magnitude ou frequência de eventos climáticos extremos.
  • A redução da escala não ajuda, se o modelo climático global subjacente não estiver produzindo uma simulação precisa.

Atualmente não existe uma ‘melhor prática’ geralmente aceita para fazer projeções regionais de eventos climáticos extremos em uma escala de tempo decadal.

A variabilidade natural do clima continua sendo o maior impulsionador de variações em eventos climáticos extremos, com no máximo mudanças incrementais associadas ao aquecimento global causado pelo homem.

A coleção de simulações de modelos climáticos até 2100 usadas pelo IPCC não são previsões; devem ser interpretados como uma análise de sensibilidade das mudanças climáticas a diferentes cenários de emissões. Essas simulações são resultados possíveis que dependem das suposições feitas sobre: emissões, a falta de variabilidade em solares e vulcões, e a ausência de fases significativas dos padrões de circulação oceânica multidecadal. As tentativas de criar probabilidades a partir das simulações do modelo climático CMIP e considerá-las como previsões levam a interpretações enganosas”. ()

Água é considerado um direito humano fundamental. Ela sempre foi uma necessidade básica, assim como o alimento e o ar. Agora como categoria de direito humano, implica certas restrições a esse direito para que mais pessoas possam continuar a tê-lo. É a mesma ideia de “vamos reduzir nosso consumo de combustíveis fósseis para que Tuvalu não afunde em três meses”. A ferramenta mais utilizada para a mudança de mentalidade necessária para o sucesso dessa ideia é, mais uma vez, o alarmismo. E a solução é flagrantemente óbvia: tornar a água mais cara para restringir o uso e aprovar novas regras para o uso aceitável e inaceitável da água, limitando as opções de uso aceitáveis e expandindo as opções de uso inaceitáveis.

Água Subterrânea

Água subterrânea é a água presente abaixo da superfície da Terra em rochas e espaços porosos do solo e nas fraturas de formações rochosas. Uma unidade de rocha ou um depósito não consolidado é chamado de aquífero quando pode produzir uma quantidade utilizável de água. A profundidade na qual os espaços porosos do solo ou fraturas e vazios na rocha ficam completamente saturados com água é chamada de freático. A água subterrânea é recarregada da superfície; pode descarregar da superfície naturalmente em nascentes e infiltrações e pode formar áreas húmidas (como o Pantanal, a maior área úmida do planeta, com uma grande biodiversidade). As águas subterrâneas profundas (que estão bem distantes da recarga da superfície) podem levar muito tempo para completar seu ciclo natural, podendo chegar a milhares de anos.

Mais de 95% da água doce do mundo, excluindo geleiras e calotas polares, encontra-se no subsolo. As águas subterrâneas fornecem o fluxo básico constante de rios e áreas alagadas, sendo de extrema importância para esses ecossistemas naturais, e são, ao mesmo tempo, fonte de água para consumo humano, agricultura, indústria e turismo. A água subterrânea é não raro mais barata, mais conveniente e menos vulnerável à poluição do que a água da superfície. Portanto, é usada também para abastecimento público de água potável.

O Sistema Aquífero Grande Amazônia (SAGA), ou Aquífero de Alter do Chão é considerado hoje o maior do mundo. O aquífero possui reservas hídricas estimadas preliminarmente em 162.520 km³ – sendo a maior que se tem conhecimento no planeta (abrange áreas das bacias do Marajó (PA), Amazonas, Solimões (AM) e Acre, chegando até as bacias subandinas). Isso considerando a reserva até uma profundidade de 500 metros. Sua reserva de água subterrânea é estimada como suficiente para abastecer o planeta por 250 anos, segundo pesquisadores da Universidade Federal do Pará. Outra das maiores reservas de águas subterrâneas do mundo é o famoso Aquífero Guarani, com cerca de 1,2 milhão de km² de área, que ocupa o subsolo do nordeste da Argentina, centro-sudoeste do Brasil, noroeste do Uruguai e sudeste do Paraguai.

As águas subterrâneas poluídas são menos visíveis e mais difíceis de limpar do que a poluição em rios e lagos. A poluição das águas subterrâneas geralmente resulta do descarte inadequado de resíduos. As principais fontes incluem produtos químicos industriais e domésticos lixões, fertilizantes e pesticidas excessivos usados na agricultura, lagoas de resíduos industriais, rejeitos e águas residuais de processo de minas, vazamentos de tanques e oleodutos subterrâneos de armazenamento de petróleo e derivados, lodo de esgoto e sistemas sépticos. Como as águas subterrâneas se movem lentamente, o impacto das atividades humanas perdura por um tempo relativamente longo, o que significa que a poluição que ocorreu algumas décadas atrás ainda ameaça a qualidade das águas subterrâneas hoje. O acúmulo de alguns poluentes continuará por várias gerações. A remediação das águas subterrâneas para remover poluentes é muito difícil, assim como localizar e medir a presença e os impactos da poluição nas águas subterrâneas. Isso leva à falta de conscientização e evidências sobre sua extensão.

Para atender à demanda e garantir qualidade suficiente para seu uso nas atividades humanas, as águas subterrâneas precisam ser uma fonte de água segura e sustentável a longo prazo. Como um recurso finito, as águas subterrâneas precisam ser protegidas da poluição e da sobre-exploração. Também devem ser tomadas medidas para prevenir e limitar a entrada de poluentes e reverter as tendências de deterioração da qualidade das águas subterrâneas. (UE)

“Mesmo quando o volume de chuvas permanece próximo da média histórica, por exemplo, a água tem chegado de forma mais concentrada e intensa em períodos curtos, o que impede sua absorção pelo solo e posterior abastecimento de aquíferos e rios. A água acaba escoando com muito mais velocidade, e não penetra no solo. Ao não penetrar no solo, evidentemente ela não vai, depois, alimentar os corpos d’água” (Wagner Ribeiro, professor de Pós-graduação em Ciência Ambiental da USP)

A qualidade das águas subterrâneas também é influenciada pela dinâmica de interação com as rochas dos aquíferos e pelo tempo de circulação no subsolo. Variáveis naturais tais como o regime de chuvas, o escoamento superficial, geologia e cobertura vegetal da bacia, bem como a poluição decorrente das atividades humanas como o lançamento de efluentes, a gestão inadequada dos resíduos sólidos e os usos do solo, dentre outros, afetam a qualidade da água dos mananciais.

Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS] mostram que em 2022 mais de 20 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos foram dispostas inadequadamente em lixões e aterros controlados. A disposição inadequada, que ocorre em pelo menos 40% dos municípios brasileiros, pode levar os contaminantes a infiltrar-se no solo a alcançar os aquíferos, prejudicando a qualidade das águas subterrâneas, além de afetar os corpos d’água superficiais através da contaminação do escoamento superficial.

Data centers e IA – Inteligência Artificial: os devoradores de água

Os data centers precisam de água para executar funções críticas, como manter os equipamentos de TI resfriados para que não superaqueçam. Um data center médio consume 1.136 m3/dia para se manter refrigerado, aproximadamente o equivalente ao consumo de água em 100.000 residências. Muitos data centers consomem água diretamente no local para dissipar o calor gerado pelos equipamentos de TI. Até 2030, a IA exigirá o equivalente em energia à demanda de toda a Índia e à demanda de água potável dos Estados Unidos.

A água também é frequentemente usada indiretamente para produzir a eletricidade necessária para alimentar o próprio data center. Quando a energia elétrica é gerada por termoeletricidade (combustíveis fósseis) também há o consumo de água, podendo consumir até 0,5 m3/kWh gerado.

“Data centers resfriados a ar dependem de grandes sistemas de ventiladores para mover o ar para os equipamentos de TI, portanto, dutos de ar devem ser instalados para levar esse ar frio aos sistemas de computador na sala. Sistemas menores de ventiladores dentro do próprio equipamento usam esse ar mais frio para puxar o ar pela parte frontal e rejeitar o ar pela parte traseira, de volta para o data center.

Esse processo se repete para cada sistema de TI no data center. O tratamento do calor que é rejeitado de volta para o data center é onde ocorre grande parte do consumo de água. O ar aquecido é capturado e trocado do ar para os sistemas de distribuição de água por meio de grandes trocadores de calor. Essa água aquecida é então enviada para fora do prédio do data center, onde é pulverizada sobre placas de resfriamento. Grandes ventiladores sopram o ar através dessas placas de resfriamento, evaporando a água no ambiente circundante como vapor. Essa perda de água no processo de evaporação deve então ser reposta por fontes externas. O resfriamento a ar tradicional não só exige grandes quantidades de energia (para condicionamento de ar e movimentação de ar), mas também uma grande quantidade de água se uma organização selecionar o método de resfriamento evaporativo para seu data center.” ()

Outra informação relevante na área da microeletrônica — as fábricas onde se fabricam chips — uma única fábrica usa tanta água quanto a necessidade de consumo de aproximadamente 17 milhões de pessoas.

Resiliência Hídrica

Segundo o conceito dado pela UN-Water, segurança hídrica é “a capacidade de uma população de:

  • Assegurar o acesso à água em quantidade adequada e de qualidade aceitável para a vida (subsistência) sustentável, o bem-estar humano e o desenvolvimento socioeconômico;
  • Garantir a proteção contra a poluição e os desastres relacionados com a água, e
  • A preservação de ecossistemas, em um clima de paz e estabilidade política”.

O primeiro pronunciamento intergovernamental sobre segurança hídrica aconteceu no 2º Fórum Mundial da Água em 2000, com uma Declaração Ministerial: segurança hídrica “significa garantir que ecossistemas de água doce, costeira e outros relacionados sejam protegidos e melhorados; que o desenvolvimento sustentável e a estabilidade política sejam promovidos; que cada pessoa tenha acesso à água potável suficiente a um custo acessível para levar uma vida saudável e produtiva, e que a população vulnerável seja protegida contra os riscos relacionados à água.”

Foram listados sete “desafios principais” à consecução da segurança hídrica: 1. Satisfação das necessidades básicas; 2. Garantia do abastecimento de alimentos; 3. Proteção aos ecossistemas; 4. Compartilhamento de recursos hídricos; 5. Gerenciamento de riscos; 6. Valorização da água; e 7. Controle racional da água.

As intervenções visando à conservação da qualidade e quantidade de água focam principalmente na preservação ou restauração da vegetação nativa, no abatimento de fontes difusas de poluição, e na ampliação de técnicas e práticas de uso e conservação do solo em escala de bacia hidrográfica – esse grupo de intervenções constitui o que se chama infraestrutura verde.

A infraestrutura natural surge como uma forma importante para auxiliar na mitigação das ameaças à segurança hídrica, podendo atuar de forma integrada e complementar à infraestrutura cinza. A infraestrutura verde possui, em geral, um menor custo do que os investimentos em engenharia tradicional, e quando aplicada de forma otimizada, pode atenuar os efeitos de depreciação da infraestrutura localizada a jusante. Áreas preservadas e reflorestadas a montante, por exemplo, podem diminuir a produção de sedimentos, diminuindo o efeito de assoreamento de reservatórios da bacia hidrográfica. Estudos mostram que investimentos em infraestrutura verde montante de captações de estações de tratamento de água possuem a capacidade de diminuir os gastos com tratamento de água, devido å melhora da qualidade da água nos médio e longo prazos. Como forma de incentivo, existem mecanismos que buscam recompensar o produtor rural pelos benefícios gerados ao meio ambiente, os denominados pagamentos por serviços ambientais (PSA).

A resiliência hídrica deve considerar:

  • O verdadeiro valor da água sendo reconhecido e percebido para garantir a segurança hídrica, a sustentabilidade, a resiliência e aproveitado para o bem maior da nossa sociedade, economia e meio ambiente.
  • A estratégia deve se concentrar fortemente em eficiência, reuso de água e soluções tecnológicas — especialmente em setores que dependem de água, como a indústria e a agricultura.
  • Modernizar a infraestrutura hídrica, estabelecer soluções baseadas na natureza e usar inteligência artificial, acelerar a digitalização e outras tecnologias emergentes para aumentar a eficiência, o monitoramento e a segurança.
  • Reduzir as perdas técnicas e comerciais e modernizar a infraestrutura hídrica por meio de financiamento público e privado e adoção de soluções digitais.
  • Adoção de práticas inteligentes de uso de água e infraestrutura verde para melhorar a retenção de água na terra, prevenir a poluição da água e combater poluentes na água potável, incluindo substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas (PFAS).
  • Impulsionar a pesquisa e a inovação.
    Todas as fontes de água disponíveis são gerenciadas para evitar a escassez e a poluição da água.
  • Os ciclos de água e recursos devem ser em grande parte fechados para promover uma economia circular e eficiência ideal de recursos.
  • Fornecer orientação sobre como reduzir o consumo de água e melhorar a eficiência hídrica com metas MRV – mensuráveis, reportáveis e verificáveis.
  • O sistema hídrico deve ser resiliente ao impacto das mudanças climáticas e demográficas.
  • Todas as partes interessadas relevantes estão envolvidas na garantia da governança sustentável da água.
  • Promover a educação e o intercâmbio de melhores práticas em economia de água e apoiar políticas sólidas de preços de água.
  • Passar de promessas para ações reais e vinculativas. Avaliar o progresso alcançado no reforço da resiliência hídrica em todos os níveis de governo, empresas e sociedade civil, e monitorizar a implementação desta estratégia.

Reservação

Ocorre que vivemos uma combinação das anomalias climáticas cíclicas El Niño e La Niña muito rigorosas, que produzem exacerbação dos fenômenos climáticos e desastres naturais e humanitários reais, cuja frequência e intensidade estão aumentando. As previsões para as consequências das mudanças climáticas são catastróficas para os recursos hídricos, com aumento do intemperismo e ocorrências de eventos críticos: tempestades severas, secas, enchentes, chuvas de maior intensidade, ainda que o volume de chuvas não deva aumentar ao longo do ano, aumento da desertificação e restrição de acesso à água potável, condições precárias de vida que resultarão em migrações e refugiados ambientais.

O “hedge” seria a reservação (para amortecer frentes de cheia e estocagem para as secas) cada vez mais mutilada nos reservatórios de hidrelétricas. A hidroeletricidade é limpa, renovável e analisando todo o ciclo de vida dos materiais, equipamentos e serviços envolvidos é uma das que menos contribui para a emissão de GEE – Gases de Efeito Estufa. Criar reservatórios além de aumentar a reserva hídrica, favorece o ecossistema natural, aumenta as áreas de APP – Áreas de Preservação Permanente – no seu entorno. Logo, há ganhos ao meio ambiente.

O SEWORLD – Segurança Hídrica e Energia – do G20 À COP30 que ocorreu em novembro de 2024, no Rio de Janeiro concluiu sobre a relevância dos reservatórios com regularização, como garantia de segurança hídrica e energética, com garantia de múltiplos usos para o enfrentamento dos eventos extremos frente às mudanças climáticas que temos enfrentado, tendo papel fundamental no controle de cheias e de escassez hídrica, mas com regras operativas definidas fundamentadas em estudos técnicos de forma a atender todos os usos e trazendo segurança jurídica e econômica aos investidores, visto serem estruturas com alto custo de investimento. Valendo destacar que além de ser premissa resultante do G20, de estar dentre as bases de discussão da COP30, se encontram estabelecido nas metas de curto e médio prazos do Plano Nacional de Recursos Hídricos vigente.

A regularização das vazões naturais é um procedimento que visa a melhor utilização dos recursos hídricos superficiais. Para esse fim, é necessário promover-se o represamento das águas, através da construção de barragens em seções bem determinadas dos cursos d’água naturais.
Com a regularização das vazões por meio da construção de barragem (formação de reservatório) visa-se, ainda, atingir vários outros objetivos dos usos múltiplos. Os usos podem ser classificados em:

  1. Consuntivos (que retiram e consomem água): Abastecimento dos rebanhos (uso prioritário); Abastecimento humano urbano e rural (uso prioritário); Geração termelétrica; Indústria; Irrigação e Mineração.
  2. Não consuntivos (estão interligados na bacia hidrográfica ou em sistemas hídricos específicos aos demais usos, e a certo nível de manutenção das condições naturais ou de operação da infraestrutura hídrica como reservatórios, canais e adutoras, já que dependem de água em quantidade e qualidade): Aquicultura; Geração hidrelétrica; Manutenção da biota; Navegação; Pesca; Recreação; Reservação para atenuação de cheias (combate às inundações); Reservação para controle de estiagens; Reservação para controle de sedimentos; Transporte e Turismo e lazer.

Os custos deveriam ser rateados por todos os seus beneficiários diretos com critérios objetivos de rateio fixados em lei, pois múltiplos usuários de recursos hídricos em geral desejam os benefícios advindos da reservação, mas não estão dispostos a pagá-los. O Setor Elétrico Brasileiro já considera na prática, a extinção da expansão dos potenciais hidrelétricos com reservatórios de regularização plurianual pelas fortes restrições socioambientais. Assim sendo, um importante usuário dos recursos hídricos deixa de custear a expansão dos reservatórios importante fator de controle de riscos e eventos climáticos extremos (cheias e secas). Os demais usuários investem em reservatórios menores tais como captação pública e irrigação. Mas as obras estruturantes estão cada vez mais escassas, mesmo sendo vitais para a segurança hídrica.

Dessalinização

O Censo de 2022 do IBGE revelou que mais da metade da população brasileira, 54,8% (116,5 milhões), vive perto do litoral, a uma distância máxima de 150 quilômetros da costa, segundo o IBGE. A dessalinização é uma alternativa de suprimento com interesse e uso crescente: envolve a remoção do sal da água do mar e sua filtragem para produzir água potável ou para uso agrícola. O subproduto desse processo é a salmoura (para cada litro de água potável produzido, são criados cerca de 1,5 litros de líquido “concentrado” com cloro e cobre, duas vezes mais salina do que a água do mar. Se não for devidamente diluída e dispersa, pode degradar os ecossistemas costeiros e marinhos). No entanto, o processo consome muita energia.

O maior desafio da dessalinização é consumo de energia elétrica (30-50% dos custos operacionais) variando bastante dependendo da tecnologia utilizada. Na osmose reversa (utiliza membranas semipermeáveis) consome entre 2,5 e 3,5 kWh/m3, enquanto métodos térmicos (empregam calor para evaporar a água e condensá-la novamente) podem consumir até 13 kWh/m3. Usando como base uma tarifa média de R$ 0,74/kWh, somente o custo da energia elétrica pode representar entre R$ 1,85/m3 a R$ 2,59/m3. A recuperação energética (até 2 kWh/m³) e eficiência energética da dessalinização tem evoluído ao longo do tempo, reduzindo o consumo de energia e os custos de produção.

A qualidade da água bruta e a qualidade desejada da água doce afetam o consumo de energia, exigem diferentes níveis de tratamento. O pré-tratamento da água bruta e o pós-tratamento da água dessalinizada podem aumentar o consumo de energia.

Existem aproximadamente 23.000 usinas de dessalinização em operação, localizadas em 177 países, que geram cerca de 95 milhões de m³/dia de água doce. A capacidade global total está crescendo, com estimativas sugerindo um aumento anual de 6% a 12%, de acordo com o Observatório da Economia Azul da UE.

No Brasil temos em operação: Fernando de Noronha: (72 m³/h), Fortaleza – CE (1 m³/s) e 830 sistemas de pequeno porte em operação, com capacidade para abastecer 330 mil pessoas, em sua maioria no Nordeste e em Minas Gerais. Em construção a usina de dessalinização de Ilhabela (30 litros/s).

Conclusões

Dado ao perfil climático do país, a maioria dos agentes causadores dos desastres naturais, entre eles a as secas e estiagens que ocorrem no território brasileiro, não podem ser evitados. Contudo, seus impactos podem ser reduzidos mediante adoção de ações prevenção, preparação e respostas.

A água que consumimos acabará retornando ao ciclo hidrológico de uma forma ou de outra. Porém, a água tem chegado de forma mais concentrada e intensa em períodos curtos, o que reduz a sua absorção pelo solo e posterior abastecimento de aquíferos e rios. Portanto, o consumo consciente de água faz bem ao bolso e ao planeta.

A estratégia deve se concentrar fortemente em eficiência, reuso de água e soluções tecnológicas — especialmente em setores que dependem de água, como a indústria e a agricultura.

Modernizar a infraestrutura hídrica, estabelecer soluções baseadas na natureza e usar inteligência artificial, acelerar a digitalização e outras tecnologias emergentes para aumentar a eficiência, o monitoramento e a segurança.

Temos um leque de alternativas para tornar o sistema hídrico mais resiliente ao impacto das mudanças climáticas e demográficas. Precisamos passar de promessas para ações reais e vinculativas.

“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.” (Madre Teresa de Calcutá)

Autores:

Enio Fonseca – Engenheiro Florestal, Senior Advisor em questões socioambientais, Especialização em Proteção Florestal pelo NARTC e CONAF-Chile, em Engenharia Ambiental pelo IETEC-MG, em Liderança em Gestão pela FDC, em Educação Ambiental pela UNB, MBA em Gestão de Florestas pelo IBAPE, em Gestão Empresarial pela FGV, Conselheiro do Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico, FMASE, foi Superintendente do IBAMA em MG, Superintendente de Gestão Ambiental do Grupo Cemig, Chefe do Departamento de Fiscalização e Controle Florestal do IEF, Conselheiro no Conselho de Política Ambiental do Estado de MG, Ex Presidente FMASE, founder da PACK OF WOLVES Assessoria Ambiental, foi Gestor Sustentabilidade Associação Mineradores de Ferro do Brasil e atual Diretor Meio Ambiente e Relações Institucionais da SAM Metais. Membro do Ibrades, Abdem, Adimin, Alagro, Sucesu, CEMA e CEP&G/ FIEMG e articulista do Canal direitoambiental.com.
LinkedIn Enio Fonseca

Decio Michellis Jr. – Licenciado em Eletrotécnica, com MBA em Gestão Estratégica Socioambiental em Infraestrutura, extensão em Gestão de Recursos de Defesa e extensão em Direito da Energia Elétrica, é Coordenador do Comitê de Inovação e Competitividade da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica – ABCE, assessor técnico do Fórum do Meio Ambiente do Setor Elétrico - FMASE e especialista na gestão de riscos em projetos de financiamento na modalidade Project Finance. https://www.linkedin.com/in/decio-michellis-jr-865619116/

Decio Michellis Jr. – Licenciado em Eletrotécnica, com MBA em Gestão Estratégica Socioambiental em Infraestrutura, extensão em Gestão de Recursos de Defesa e extensão em Direito da Energia Elétrica, é Coordenador do Comitê de Inovação e Competitividade da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica – ABCE, assessor técnico do Fórum do Meio Ambiente do Setor Elétrico – FMASE e especialista na gestão de riscos em projetos de financiamento na modalidade Project Finance.
LinkedIn Decio Michellis Jr.
Autor de 27 e-books e coautor de 23 e-books. As 24 publicações mais relevantes estão disponíveis para download gratuito em:
https://independent.academia.edu/DecioMichellisJunior

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