Por Enio Fonseca
1) Considerações Iniciais
A mineração é um setor essencial para o desenvolvimento econômico global, fornecendo recursos fundamentais para diversas indústrias, como energia, construção civil, tecnologia e transporte. Contudo, trata-se de uma atividade caracterizada por elevada complexidade operacional, exigências regulatórias rigorosas e desafios socioambientais relevantes.
Nesse contexto, a gestão dos riscos de negócio associados à mineração assume papel
estratégico para garantir a segurança, a sustentabilidade e a resiliência dos empreendimentos.
O objetivo deste artigo é repercutir dois estudos recentes, elaborados pelo IBRAM- Instituto Brasileiro de Mineração, lançado agora ao final do mês de outubro, na Exposibram 2025, em Salvador, intitulado “Panorama dos Principais riscos de negócio da Mineração” , e o estudo “Os 10 principais riscos oportunidades para empresas de mineração e metais em 2025”, elaborado pela Consultoria Internacional Ernst & Young- EY
Neste sentido apresento trechos dos dois documentos, devidamente citados, com a finalidade de que mais pessoas, tanto do setor, como técnicos, empregados e lideranças, quanto da sociedade, como autoridades e lideranças da sociedade civil, órgãos de controle possam compreender o movimento de gestão dos riscos setoriais, promovido pelas empresas.
2) Panorama dos Principais riscos de negócio da Mineração . By IBRAM

Este documento, lançado pelo Instituto Brasileiro da Mineração, durante a Exposibram de 2025, em Salvador, tem como objetivo oferecer uma visão abrangente e estruturada sobre os principais riscos de negócio que impactam a mineração no Brasil, consolidando práticas de prevenção e mitigação alinhadas a referenciais nacionais e internacionais de gestão de riscos.
A publicação busca apoiar empresas do setor na construção de estratégias robustas que assegurem a continuidade das operações, a proteção socioambiental, a resiliência organizacional e a geração de valor sustentável.
O conteúdo contempla desde a contextualização da mineração e sua relevância eco-nômica até a descrição detalhada de riscos prioritários, como barragens e pilhas, força de trabalho, geopolítica, mudanças regulatórias e tributárias, licenciamento ambiental, mudanças climáticas, questões ambientais, relacionamento com comunidades e segurança cibernética. Cada risco é apresentado com base em seu contexto, causas e impactos potenciais, além de estratégias de prevenção e mitigação que traduzem as melhores práticas observadas no setor.
Trata-se, portanto, de um documento prático e de fácil consulta, que busca fortalecer a governança e a tomada de decisão das mineradoras, ao mesmo tempo em que contribui para o desenvolvimento seguro, competitivo e sustentável da mineração brasileira.
O documento pode ser acessado clicando aqui:
O IBRAM registra que a elaboração do documento contou com o apoio de especialistas das empresas associadas. Essa contribuição foi fundamental para consolidar um material de referência que terá impacto em todo o segmento, apoiando o avanço da gestão de riscos e promovendo a sustentabilidade do setor mineral.
A mineração é um setor essencial para o desenvolvimento econômico global, fornecendo recursos fundamentais para diversas indústrias, como energia, construção civil, tecnologia e transporte. Contudo, trata-se de uma atividade caracterizada por elevada complexidade operacional, exigências regulatórias rigorosas e desafios socioambientais relevantes.
Nesse contexto, a gestão dos riscos de negócio associados à mineração assume papel estratégico para garantir a segurança, a sustentabilidade e a resiliência dos empreendimentos.
É importante destacar que os Riscos de Negócio abrangem tanto Riscos Operacionais — originados nas etapas dos processos produtivos — quanto Riscos não Operacionais — decorrentes de fatores externos à operação. Quando materializados, esses riscos podem gerar impactos significativos sobre pessoas, comunidades, meio ambiente, continuidade das operações e reputação corporativa, comprometendo, em última instância, o alcance dos objetivos estratégicos e de negócio da empresa.
Para enfrentar os desafios da gestão no setor mineral, as empresas estruturam suas metodologias com base em referenciais amplamente reconhecidos, como a ISO 31000 (gestão de riscos), a ISO 55000 (gestão de ativos) e o COSO-ERM (Enterprise Risk Management). Esses frameworks oferecem diretrizes consistentes e alinhadas aos padrões internacionais, fortalecendo a governança corporativa e a qualidade da tomada de decisão.
Destaca-se também o GSPM (Gerenciamento de Segurança de Processo na Mineração), que é um conjunto de práticas voltadas à identificação, avaliação e controle de riscos operacionais específicos da atividade mineral. A GSPM tem como foco a integridade dos processos, a prevenção de acidentes e a proteção das pessoas, do meio ambiente e dos ativos. Essas práticas foram consolidadas pelo Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), por meio do documento “Diretrizes para Gerenciamento de Segurança de Processos na Mineração do Brasil”, que oferece uma base técnica e estratégica para
a implementação eficaz da GSPM nas organizações do setor.
A aplicação eficaz dessas metodologias requer que o processo de gerenciamento de riscos siga um ciclo estruturado em quatro etapas fundamentais:
1. Identificação dos riscos – mapeamento de eventos que possam comprometer os
objetivos organizacionais;
2. Análise e tratamento – avaliação da probabilidade e impacto dos riscos, definição
de estratégias de resposta e mitigação;
3. Monitoramento – acompanhamento contínuo da evolução dos riscos e da eficácia
das ações implementadas;
4. Comunicação e reporte – promoção da transparência e do alinhamento entre áreas
e níveis hierárquicos, assegurando decisões informadas.
Para que esse processo seja efetivo, é essencial contar com uma estrutura de governança bem definida. Como boa prática, recomenda-se o modelo das três linhas de defesa:
• Primeira linha: responsáveis diretos pelos riscos e controles, atuando na identificação, avaliação e tratamento no dia a dia das operações;
• Segunda linha: áreas especializadas que desenvolvem metodologias, estabelecempadrões e monitoram a conformidade com requisitos técnicos e regulatórios;
• Terceira linha: auditoria interna independente, encarregada de avaliar a eficácia do sistema de gestão de riscos.
A gestão de riscos no setor mineral requer uma abordagem multidimensional na avaliação de cenários, capaz de integrar diferentes perspectivas que refletem a complexidade
das operações. As principais dimensões consideradas incluem:
• Pessoas – impactos sobre trabalhadores e comunidades locais;
• Meio ambiente – efeitos nos ecossistemas, como uso da água, emissões e preservação da biodiversidade;
• Direitos humanos e aspectos sociais – riscos de violações, deslocamentos involuntários e impactos culturais;
• Reputação corporativa – danos à imagem decorrentes de acidentes, conflitos sociais ou não conformidade com padrões éticos;
• Impactos financeiros – perdas por interrupções operacionais, multas e desvalorização de ativos;
• Questões legais e regulatórias – penalidades, embargos ou processos judiciais por descumprimento de normas e novas exigências legais.
Após essa análise abrangente, os riscos são consolidados em uma matriz de risco, que cruza a severidade dos impactos com a probabilidade de ocorrência. Essa ferramenta permite classificar os riscos por prioridade e orientar as estratégias de mitigação, garantindo foco nos riscos mais críticos para a organização. Ferramentas adicionais de avaliação devem ser utilizadas sempre que necessário, sendo a ISO 31010 – Técnicas para o processo de avaliação de riscos uma referência importante, com sugestões
específicas para cada situação.
Com uma base metodológica robusta e uma governança estruturada, as empresas do setor mineral estão mais preparadas para compreender os principais temas de risco que impactam suas operações. Essa compreensão é essencial para analisar causas, antecipar tendências e enfrentar os desafios que se impõem à gestão empresarial segura, sustentável e moderna.
No contexto deste documento, os riscos apresentados foram priorizados a partir de um processo de escuta junto às principais empresas do setor, considerando também o elevado impacto potencial que representam para as companhias que operam no Brasil.
A Mineração é um setor estratégico para a economia brasileira, mas enfrenta desafios complexos que exigem uma gestão robusta dos riscos. Este guia, elaborado com a colaboração ativa de representantes de diversas empresas e orientado por instituições de referência, identifica os principais riscos de negócio
do setor, que são:
- Barragens e Pilhas
 - Compliance Regulatório
 - Força de Trabalho
 - Geopolítica
 - Licenciamento Ambiental
 - Meio Ambiente
 - Mudanças Climáticas
 - Mudanças Tributárias
 - Relacionamento com Comunidades
 - Segurança Cibernética
 
Cada risco é detalhado com seu contexto, causas e gatilhos para materialização, impactos e consequências, interfaces com outros riscos e estratégias de mitigação. O objetivo é fornecer uma ferramenta prática, intuitiva e de fácil consulta, que auxilie na tomada de decisões, promovendo a segurança, sustentabilidade e inovação no setor de mineração.
Barragens e Pilhas
Estruturas geotécnicas, como barragens de mineração, pilhas de estéril e rejeito, têm papel essencial no processo de beneficiamento do minério. A segurança desses ativos deve ser prioridade para a indústria. Em caso de perda de estabilidade, colapso ou ruptura, as consequências podem ser severas para o empreendimento e suas áreas de influência, direta e indireta
Compliance Regulatório
A mineração opera em um ambiente fortemente regulado, onde mudanças regulató-
rias nas normas podem exigir adaptações rápidas. Isso demanda reestruturação da
gestão, capacitação de equipes e investimentos em mecanismos de inteligência. Por
outro lado, a ausência de monitoramento adequado e falhas na adaptação às novas
exigências podem resultar em impactos financeiros relevantes. A seguir, apresenta-se
um resumo das principais estratégias adotadas para prevenção, monitoramento e miti-
gação de riscos associados a esse tema.
As estratégias de prevenção visam antecipar mudanças regulatórias por meio de monitoramento contínuo, análise jurídica preventiva e engajamento proativo em fóruns setoriais, enquanto as estratégias de mitigação buscam responder a alterações já implementadas com ajustes contratuais, planos operacionais flexíveis e revisões periódicas conduzidas por comitês multidisciplinares
para garantir conformidade e continuidade dos negócios.
Força de Trabalho
A mineração exige uma força de trabalho altamente qualificada para lidar com tecnologias avançadas, operar em condições adversas e atender às rigorosas exigências de segurança. Essa gestão de pessoas na mineração enfrenta riscos significativos, como alta rotatividade, dificuldade em atrair e reter talentos, exposição a condições extremas de trabalho, e o impacto do trabalho em áreas remotas na saúde física e
mental dos colaboradores. A crescente automação e digitalização no setor impõem a necessidade de requalificação constante, o que pode gerar resistência ou lacuna de habilidades entre os trabalhadores, bem como as eventuais discrepâncias de habilidades/qualificações x exigências em virtude do avanço tecnológico.
Geopolítica
O risco geopolítico no setor mineral envolve incertezas políticas, escalada de disputas e tensões comerciais em países e regiões-chave para o mercado de commodities minerais, bem como a escalada de conflitos bélicos. Esses fatores podem impactar as operações de mineração, a demanda e precificação dos produtos, e custos de insumos, bem como comprometer rotas logísticas essenciais para o escoamento da
produção. A demanda crescente por minerais críticos, aliada à concentração desses
recursos em poucas regiões, torna o gerenciamento do risco geopolítico essencial
para garantir a sustentabilidade e competitividade da indústria mineral.
Licenciamento Ambiental
A Licença Ambiental é um instrumento de gestão instituído pela Política Nacional do Meio Ambiente- Lei 6938/81, de utilização compartilhada entre a União e os estados da federação, o Distrito Federal e os Municípios, em conformidade com as respectivas competências.
A licença é necessária para a construção, instalação, ampliação e operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, ou que possam causar degradação ambiental.
A licença é um ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser
obedecidas pelo empreendedor.
A fiscalização e controle da licença ambiental incluem a análise de projetos de entidades públicas ou privadas, além da imposição de penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.
A obtenção e manutenção de licenças ambientais são essenciais para a continuidade das operações. A ausência ou atraso nesse processo pode resultar em paralisações, multas, judicialização e conflitos com a sociedade.
Meio Ambiente
As operações de mineração envolvem riscos ambientais intrínsecos, capazes de impactar recursos hídricos, qualidade do solo, emissões atmosféricas e biodiversidade.
Para assegurar a conformidade regulatória e a redução efetiva desses impactos, as empresas devem implementar medidas de mitigação em níveis compatíveis com a legislação vigente, incorporando ainda as melhores técnicas disponíveis (BAT – BestAvailable Techniques).
Tais medidas devem contemplar sistemas de controle, monitoramento contínuo e programas de recuperação ambiental, reforçando o compromisso com padrões elevados de desempenho socioambiental e sustentabilidade operacional.
Mudanças Climáticas
As mudanças climáticas impõem desafios operacionais críticos à indústria de mineração, com eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes ameaçando a continuidade das operações. Enchentes podem inundar minas subterrâneas, secas prolongadas comprometem o suprimento de água para processamento, tempestades severas danificam infraestrutura essencial, e variações térmicas extremas afetam equipamentos e segurança dos trabalhadores. Adicionalmente, mudanças nos padrões
de precipitação alteram a estabilidade geotécnica de taludes e barragens de rejeitos, elevando significativamente os riscos de acidentes ambientais.
Paralelamente aos riscos físicos, o setor enfrenta pressões regulatórias e de mercado crescentes, incluindo políticas ambientais mais rigorosas, taxação de carbono e demandas de investidores por práticas sustentáveis. Embora a transição energética crie oportunidades para minerais críticos como lítio e cobalto, as empresas precisam investir substancialmente em adaptação de infraestrutura, tecnologias de baixo carbono e estratégias robustas de gestão de riscos climáticos, equilibrando custos
de conformidade com a necessidade de manter competitividade em um ambiente climático cada vez mais imprevisível.
Mudanças Tributárias
Alterações na legislação tributária podem impactar a viabilidade econômica dos projetos minerários, gerando custos imprevistos podendo, inclusive, causar a viabilidade
econômica do empreendimento.
Relacionamento com Comunidades
Manter um relacionamento harmonioso com as comunidades locais é fundamental para conquistar e manter a licença social para operar. A ausência de diálogo e a limitação de investimentos podem gerar conflitos e impactar as operações, além de comprometer a imagem e reputação da empresa.
Segurança Cibernética
As empresas de mineração dependem cada vez mais de ambientes de TI – Tecnologia da Informação robustos e seguros para suas operações. Com o aumento das ameaças cibernéticas, os ataques podem comprometer sistemas e dados, levando
a interrupções das operações, perdas financeiras e danos à reputação. A vulnerabilidade aumenta à medida que os ataques se tornam mais sofisticados, tornando a segurança de cibernética um imperativo estratégico. Para garantir a continuidade operacional, é necessário investir na mitigação de riscos de segurança cibernética por meio de monitoramento constante, atualizações de sistemas e conscientização
dos funcionários.
3) Os 10 principais riscos e oportunidades para empresas de mineração e metais em 2025. By Ernst Young- EY
Durante junho e julho de 2024, a Ernst Young entrevistou líderes seniores de mineração e metais em todo o mundo de organizações com pelo menos USD 1 bilhão em receita por meio de uma pesquisa on-line anônima. No total, 353 respostas exclusivas foram coletadas, com 17% dos entrevistados em nível de C-level; 48% liderando departamentos, unidades de negócios ou grupos de commodities; e 35% no nível de presidente, vice-presidente ou diretor.
Os 10 principais riscos e oportunidades para empresas de mineração e metais em 2025 revelam que o setor está pronto para abraçar a transformação necessária para atender à crescente demanda em um sistema de energia em constante mudança. Os mineradores que fazem mudanças significativas e transformadoras em seus negócios podem remodelar seu futuro com confiança, acelerar caminhos para novos valores e obter vantagem competitiva.
O link de acesso ao documento elaborado pela EY pode ser acessado clicando aqui.
Trata-se de estudo conduzido por Paul Mitchell, Líder em Mining & Metals da EY Global,
Líder senior em mineração e metais.
Os 10 principais riscos e oportunidades para empresas de mineração e metais em 2025
Radar = gráfico de riscos de negócios
Quatro riscos saíram do top 10 nesta última pesquisa — governança, cyber, digital e força de trabalho — omissões que despertou alguns alertas. Para muitas empresas, os riscos e oportunidades apresentados por cyber e digital agora são parte integrante do negócio, não merecendo atenção especial. Mas a não priorização da governança foi inesperada e talvez mais preocupante, já que as mineradoras estão desenvolvendo novos projetos em países com uma supervisão regulatória potencialmente mais fraca. E a ausência do tópico sobre mão de obra do radar é particularmente preocupante quando o setor enfrenta desafios significativos para atrair e reter os talentos que sustentarão seu futuro.
A transformação rápida agora é urgente. Isso significa que 2025 deve ser um ano de ação para as mineradoras. É hora de revisar e adaptar os modelos de negócios atuais, considerar novas abordagens e avançar com as parcerias e inovações que permitirão ao setor atender à demanda de maneira sustentável e otimizada.
Os 10 principais riscos e oportunidades na mineração
1. Capital/Investimento
As mineradoras continuam enfrentando um maior escrutínio dos investidores sobre como o investimento é implantado, com um forte foco na disciplina de capital e nos retornos.
Nesse contexto, as empresas estão acelerando o crescimento e ampliando o valor por meio de fusões e aquisições (M&A), desmembrando ativos não essenciais ou ativos de alto crescimento. Em uma recente pesquisa EY CEO Outlook Pulse, todos os entrevistados do setor de mineração e metais disseram que planejam realizar alguma forma de transação nos próximos 12 meses. As empresas pesquisadas para o relatório dos 10 principais riscos e oportunidades de negócios nos disseram que também estão expandindo suas opções de financiamento, considerando uma média de quatro fontes de capital.
Com a probabilidade de as circunstâncias macroeconômicas desafiadoras continuarem, não surpreende que as mineradoras queiram considerar parcerias, joint ventures (JVs) ou integração para mitigar riscos em projetos de grande escala. Mas possibilitar o investimento necessário para atender à demanda pode exigir mudanças mais fundamentais na abordagem do setor ao financiamento — pensando além do rendimento e investindo capital para criar valor a longo prazo.
2. Gestão ambiental
O “E” em meio ambiente, social e governança (do inglês ESG) é o foco principal das empresas de mineração, com evidências de um aumento significativo nos esforços para criar um legado ambiental positivo. Gestão de resíduos e hídrica continuam sendo uma prioridade, com nossa pesquisa mostrando que as mineradoras estão buscando projetos inovadores para capturar valor.
O impulso em direção à natureza positiva — a meta de deter e reverter a perda da natureza até 2030 — foi liderado pelo International Council of Mining and Metals (ICMM), e quase metade dos entrevistados dizem que estão confiantes em cumprir suas obrigações de natureza positiva. O conhecimento e a experiência de gestão sustentável da terra por comunidades indígenas as tornam parceiras essenciais no cumprimento dessas metas. Estima-se que um quarto da Terra esteja sob os cuidados das comunidades indígenas, e essas áreas estão em melhor forma ambiental do que outras.
3. Geopolítica
O nacionalismo de recursos continua aumentando, impactando as regras tributárias e os direitos de propriedade. O incentivo aos projetos de grande escala necessários para permitir a transição energética dependerá de os governos equilibrarem as metas atuais de receita nacional com os benefícios de longo prazo.
Possivelmente os mineradores precisem considerar diferentes abordagens para projetos em determinadas regiões. Por exemplo, JVs com empresas locais e licenciamento podem ajudar a reduzir o risco de investimentos.
4. Esgotamento de recursos e reservas (nova inserção)
As empresas de mineração devem continuar desenvolvendo maneiras melhores de extrair e otimizar minerais e metais essenciais para atender à crescente demanda e, ao mesmo tempo, proteger nosso meio ambiente.
Esse problema complicado é causado por fatores entrelaçados. O declínio dos teores de minério aumenta os custos de extração. Os orçamentos de exploração estão altos, mas os custos também, e menos descobertas estão sendo feitas.
As empresas de mineração estão considerando uma combinação de soluções, incluindo investimento em tecnologias que podem promover a exploração e melhorar a produtividade. Por exemplo, a tecnologia de lixiviação pode recuperar mais metais de minérios de baixo teor do que os processos tradicionais — por exemplo, a tecnologia Nuton da Rio Tinto pode atingir taxas de recuperação de até 85%.2
5. Licença para operar
Aumentar o impacto na comunidade e a confiança dos povos indígenas continua no topo da agenda de mineradores e investidores. Em todo o mundo, comunidades e governos esperam que os mineradores façam mais para apoiar as comunidades no presente e deixar um legado positivo para o futuro.
As empresas que capacitam as comunidades indígenas como parceiras estão criando a base para relacionamentos de longo prazo e fortalecendo a marca. O fechamento de minas é outra oportunidade de fortalecer as relações com a comunidade e deixar um legado positivo, mas apenas 5% dos nossos entrevistados o veem como uma questão fundamental.
6. Aumento dos custos e da produtividade
Os mineradores continuam enfrentando altos custos, principalmente em relação à mão de obra e energia. As despesas com a força de trabalho são exacerbadas pela escassez de habilidades, afetando a produtividade e potencialmente elevando os riscos de segurança, à medida que pessoas menos qualificadas assumem funções.
Mais de um terço dos entrevistados concorda que o foco no ESG (e a pressão para cumprir as crescentes obrigações regulatórias) está desviando a produtividade. Isso destaca os benefícios de integrar métricas ambientais (por exemplo, intensidade de carbono) em medidas de produtividade mais amplas, para ajudar as empresas de mineração a obter benefícios mais amplos.
7. Mudanças climáticas
O escrutínio sobre as emissões dos Escopos 1 e 2 está crescendo, assim como a confiança das mineradoras em atingir as metas de redução, um resultado talvez parcialmente impulsionado pelo progresso nas operações de descarbonização. A intensidade das emissões do local da mina diminuiu cerca de 10% desde 2020, principalmente por meio do uso de energia renovável.3

As metas de Net-Zero possuem uma história diferente. Muitas empresas estão testando a produção de metais com baixo teor de carbono, mas a comercialização dessa tecnologia continua difícil, em parte devido aos custos, mas também à capacidade insuficiente do eletrolisador de hidrogênio. Por exemplo, produzir uma tonelada de aço com hidrogênio requer aproximadamente 300 MW de capacidade de eletrolisador funcionando continuamente; no entanto, a capacidade global atual acaba de atingir 1 GW.4 A parceria com fabricantes de equipamentos pode ajudar a acelerar a expansão de tecnologias inovadoras que serão essenciais para reduzir as emissões.
8. Novos projetos (nova inserção)
Nos próximos 30 anos, o setor precisará minerar mais minerais do que os humanos extraíram nos últimos 70.000 anos.5 Preencher a lacuna de demanda exige a superação de várias barreiras complexas para novos projetos. A burocracia regulatória está aumentando os prazos de entrega dos projetos. Os altos custos tornam as novas minas mais intensivas em capital, e a falta de trabalhadores qualificados significa que a entrega oportuna do projeto será mais desafiadora. Além disso, o aumento da taxa de royalties e impostos de mineração em alguns mercados pode ser uma barreira para novos projetos.
Os mineradores estão adotando diversas abordagens para superar esses obstáculos, incluindo a conexão com os stakeholders durante os estágios iniciais do projeto para resolver conflitos e agilizar as aprovações. A integração em toda a cadeia de suprimentos também pode agilizar as atividades da exploração à produção e permitir um planejamento de demanda mais preciso.
Nos próximos 30 anos, a indústria precisará minerar mais minerais do que os humanos extraíram nos últimos 70.000 anos, para atender à demanda exponencial por minerais essenciais para a transição energética.
9. Mudando os modelos de negócios
Em sua busca por capturar mais valor, as empresas de mineração e metais estão reavaliando seus modelos de negócios, com muitas se concentrando nas oportunidades de sustentabilidade. Quase metade dos entrevistados estão considerando como integrar a reciclagem às operações, o que pode incluir o melhor uso da sucata ou o estabelecimento de redes de coleta.
Outras empresas estão explorando a integração em toda a cadeia de valor para acelerar a descarbonização e aproveitar novas receitas. Por exemplo, o investimento em fundição dá às mineradoras maior controle sobre as emissões e cria oportunidades ao oferecer produtos premium e mais limpos. Parcerias locais também podem criar valor organizacional e social de longo prazo.
10. Inovação
A mineração sustentável e econômica em grande escala não acontecerá sem inovação, especialmente à medida que os recursos se esgotam, os custos aumentam, o talento se torna escasso e as pressões ambientais aumentam.
Embora mais da metade dos entrevistados preveja mais investimentos em inovação nos próximos 12 meses, vemos muitos se concentrando em projetos de menor risco (ou seja, processamento). Apesar da necessidade de mais descobertas, apenas 30% dos entrevistados veem a inovação na exploração como tendo o potencial de causar um grande impacto.

A colaboração é parte integrante da inovação. Parcerias entre mineração, associações industriais e outros setores levaram a avanços que poderiam gerar benefícios econômicos e de sustentabilidade significativos. Existem alguns exemplos interessantes do setor trabalhando com outros, incluindo a colaboração entre Rio Tinto, BHP, Caterpillar e Komatsu para testar a tecnologia de grandes caminhões de transporte elétricos a bateria em Pilbara (Austrália Ocidental). Mas, apesar dessas iniciativas encorajadoras, 50% dos entrevistados ainda acreditam que não há colaboração suficiente para impulsionar a inovação no setor.
3) Considerações finais
Estes dois estudos tiveram abrangência distintas, sendo o da EY, elaborado a partir de questionários respondidos por gestores de empresas internacionais, e que pontuaram também, além dos riscos, oportunidades setoriais.
O estudo do IBRAM, teve abrangência nacional, tendo sido elaborado a partir de especialistas de empresas de mineração, com atuação no Brasil, e associadas ao Instituto.
A gestão dos riscos, robustamente identificados nos dois documentos, abre oportunidade para que as próprias empresas adotem ferramentas de identificação,minimização e controle, e também contribui para que órgãos públicos possam aprimorar seus instrumentos de atuação.
Enio Fonseca – Engenheiro Florestal, Senior Advisor em questões socioambientais, Especialização em Proteção Florestal pelo NARTC e CONAF-Chile, em Engenharia Ambiental pelo IETEC-MG, em Liderança em Gestão pela FDC, em Educação
Ambiental pela UNB, MBA em Gestão de Florestas pelo IBAPE, em Gestão Empresarial pela FGV, Conselheiro do Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico, FMASE, foi Superintendente do IBAMA em MG, Superintendente de Gestão Ambiental do Grupo Cemig, Chefe do Departamento de Fiscalização e Controle Florestal do IEF, Conselheiro no Conselho de Política Ambiental do Estado de MG, Ex Presidente FMASE, founder da PACK OF WOLVES Assessoria Ambiental, foi Gestor Sustentabilidade Associação Mineradores de Ferro do Brasil e atual Diretor Meio Ambiente e Relações Institucionais da SAM Metais. Membro do Ibrades, Abdem, Adimin, Alagro, Sucesu, CEMA e CEP&G/ FIEMG e articulista do Canal direitoambiental.com.
Gostou do conteúdo?
- Siga a gente no LinkedIn e Instagram;
 - Acompanhe mais no nosso blog;
 - Quer receber notícias ambientais direto no seu Whatsapp? Clique aqui!
 - Inscreva-se no nosso canal do YouTube e fique por dentro dos debates e tendências.
 
Leia também:
Pragmatismo climático: Corra, mas devagar (Mudanças Climáticas)
Consulta livre, prévia e informada aos povos tradicionais. Ouça-me
Direito Ambiental 
				
			


